NO
ITORORÓ…
“Fui no Itororó beber água, não achei”…
Tá bom, não foi bem assim que aconteceu... de verdade,
mesmo, eu fui parar na Lagoa de Boa Vista, ali na pontinha sul de Marataízes,
já na divisa com Kennedy, em busca de belas fotos do entardecer. Não conhece o
local?! Fica a sugestão. Algumas imagens podem ser vistas no meu blog: http://arroubosliterarios.blogspot.com.
De um lado, a lagoa, recebendo os raios dourados de um
crepúsculo (sem vampiros ou lobisomens) repleto de espessas nuvens no longínquo
horizonte, como robustas torres de um castelo escuro que parecia circundar meio
orbe. Espetáculo gratuito e diário de uma natureza que não se cansa de crer que
um dia inda a haveremos de respeitar. Nem por isso corriqueiro ou vulgar.
Do outro, o mar achocolatado e irrequieto, assolado pelo
nordestão de setembro que já começa a dar as caras. Ao fundo, límpido e
ignorante de ventos e correntes marinhas, o céu do nascente, à hora do poente,
despedindo-se de mais um dia com um belíssimo degradê de azul, rosa e branco.
Céu este que, um dia, me disseram, apresentar-se único em terras capixabas,
sendo, por isso, o motivo de inspiração das cores e disposição das mesmas em
nossa bandeira, que nos conclama a trabalhar e confiar. A história carece de
confirmação e pode ser até que de veracidade. Mas é bela e edifica.
Eqüidistante a isso tudo, meus olhos maravilhados
posicionam a lente da câmera, em busca do sonho de eternizar momentos, enquanto
um senhor visivelmente embriagado me cutuca e puxa assunto.
“Apenas um bêbado chato”, terei pensado, num primeiro
momento. Ou, como se diz por aí, terá sido a minha “primeira impressão”.
Meio a contragosto,
emprestei-lhe os ouvidos, na esperança de que fosse breve. Afinal, pedindo
licença para citar Reginaldo Rossi, “todo ‘bebum’ fica chato”. E o que me vem
aos sentidos é uma torrente de emoções.
Atrás da máscara de bêbado,
um pai comemora uma conquista esperada por onze anos: finalmente, depois de
muito correr e recorrer, bufar, xingar, resmungar, orar, esperar e frustrar,
abriram-se as portas para que a filha de onze anos tenha acesso a uma cirurgia
esperada desde o seu nascimento: o mal a ser extirpado, de acordo com o pouco
que pude compreender, é uma deformidade congênita que a menina traz no rosto,
uma fealdade que, pelo embargo de sua voz, preferiria ver estampada em sua
própria face (mostra os poucos dentes, como prova de uma promessa feita em prol
da filha.
Atrás de uma primeira
impressão desfavorável, uma segunda, comovida e solidária.
Apenas por parar por um
instante e escutar, a surpresa de ouvir uma boa história “onde menos se
espera”. A cara aparvalhada, a dicção prejudicada, os tapas no ombro com mão
dura de pescador, os muitos copos de um alcoólico qualquer, ou vários;
expressões de alívio de um pai que pode, finalmente respirar e repousar.
Humano, no melhor sentido da
palavra…
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Ricardo Lemos é pai, filho,
geminiano, escritor, jornalista, enxerido e avesso a primeiras impressões; enfim,
um filho de Deus, como você. Atualmente publicando nos blogs Arroubos
Literários, Olho Mágico 365 e TAMTA – incubadora de idéias.
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