- Sabe uma coisa que me irrita?
Ele não estava muito interessado em saber. O segundo caderno do jornal de 3 dias atrás, que ele finalmente conseguira se sentar para ler, lhe parecia muito mais proveitoso do que o assunto que ela acabava de puxar. Mas sabia que não haverá como escapar do assunto, então emitiu um quase inaudível "hum?" para que ela prosseguisse.
- Essa gente que fica falando mal dos outros pelas costas. Acho um absurdo! Na frente é só sorrisos, gentilezas, maior falsidade. Aí é só a pessoa virar as costas que começa a criticar.
- É verdade…
- Hoje cedo eu estava saindo da academia com a Waldete e a Irene. Paramos pra tomar um suco na padaria e a Irene teve que sair, dizendo que estava atrasada pra uma consulta. Foi ela colocar o pé fora da padaria e a Waldete começar a meter o pau, dizendo que teria vergonha de sair com aquela roupa de ginástica na rua, se tivesse o tanto de celulite que a Irene tem. Que também, com aquele marido galinha que ela tem, só mesmo se exibindo por aí, pra ver se arruma um garotão. Que o marido, além de galinha, anda envolvido com uma série de denúncias na Assembleia Legislativa. E não parou de criticar a coitada da Irene enquanto eu não a deixei na porta do prédio.
- É um absurdo, isso…
- Imagina só! Justo a Waldete, que está tentando perder seis quilos (isso é o que ela diz, porque, pra mim, teria que ser no mínimo o dobro) desde março. Vive por aí, torrando a fortuna de pensão que recebe do ex-marido, cada dia com um garotão diferente. E o que é pior: despachou a mãe prum asilo, que ela enche a boca pra chamar de clínica, só pra poder receber homem em casa. Francamente! Isso me irrita!
Ele tirou os olhos do jornal. Olhou-a por cima dos óculos.
- E você, por acaso, está fazendo o quê, agora, Dulce?
- Eu?! Apenas comentando.
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