Certa feita, estava a passar
a virada de ano em Prado, litoral sul da Bahia, mais precisamente no Beco das
Garrafas, ao fim do qual um rapaz executava um belo trabalho de voz e violão,
quando se aproxima um guri de seis anos e puxa papo. Não me lembro como foi que
ele começou, criança puxando assunto é quase sempre mais interessante que o
próprio assunto que se puxa. Sei que culminou numa revelação:
- É que eu queria que ele
tocasse uma música, mas eu acho que ele não vai…
- Que música você quer?
Ele disfarça, abaixa um
pouco o tom de voz e confidencia discretamente: - “Caubói Viado”.
Olhamo-nos. Pensamos juntos:
- Tomara que não!
Explicamos que não era um
tipo de música legal para quem estava ali, que ele podia ouvir com os
amiguinhos, essas coisas que são sempre mais fáceis de conversar com filho dos
outros. Ele foi bastante receptivo. Compreensivo, até, eu diria. Fez aquele ar
superior que criança faz quando não entende adulto e balbucia um “tudo bem”,
como quem diz “eu deixo você me vencer. Por enquanto…”, sorriu e se despediu.
Mal se virou na direção da
mesa dos pais, anunciou em alta voz, balançando negativamente a cabeça, com
aquela cara ensaiadíssima de simulada indignação resignada:
- Ele só toca LPB…
Natural que ele não soubesse
exatamente o que significa MPB.
Mas, pensando bem, nem eu… M
de Música, B de brasileira; até aí fica fácil concordar. Mas não me lembro de
já ter ouvido rumores de Chico Buarque no Cachoeiro X Marataízes. Nem no
Executivo. Ou qualquer coisa na voz de Elis Regina na quermesse do bairro. Ou
Djavan na rádio poste. Quem, em sã consciência, então, tentará me convencer de
que o tal “P” do meio da sigla representa popular?!
Popular virou POP, ficou
moderno e hoje pode ter a cara que o ouvinte bem entender. E MPB, no bem entender
da grande maioria dos ouvintes, acabou se transformando num conceito pessoal,
aliado a uma idéia de antiguidade: mais ou menos como algo que se gostava de
ouvir há um ano ou dois, que sumiu da mídia após os 15 minutos de fama
meteórica instantânea. O que era “palatável” há dois anos acaba se
transformando em clássico, o que pode ser entendido, pelos mais críticos, como
um sinal de que a produção piorou consideravelmente nesse meio tempo. Ou, pelos
menos, como simples nostalgia.
O fato é que o LPB rola
solto por aí: pra uns é lixo, pra outros é luxo e viva a biodiversidade e o
fone de ouvido.
E só agora me ocorre que
essa história aconteceu há uns 6 anos. Tempo mais que suficiente para que o
“Caubói Viado” do menino (Luciano, o nome dele, que deve estar à beira de
completar 12 e vai saber que tipo de LPB anda curtindo por aí) já possa ser
considerado MPB.
Ou não…
Com as leis que o governo
anda tentando “passar”, ultimamente, eu não me arrisco a prever mais nada…
“A nossa música nunca mais
tocou.” – Cazuza
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