Confesso que me desconcerta sobremaneira essa tela alvinitente, esse cursor intermitente, como que a cobrar-me, segundo a segundo, pelo que tenho a dizer.
Sou do tempo do bom e velho papel, receptáculo neutro e acrítico de meus garranchos desencontrados; sujeito aos meus arroubos de profundo desespero, quando as idéias não fluem como sonhara o pseudo-escritor que jaz em meu íntimo, vítima de meus acessos de fúria, ao arrancá-lo com violência da máquina de escrever e lançá-lo com grande desdém ao cesto de lixo. Sou do tempo dos estalidos frenéticos da velha máquina de escrever, que pareciam marcar o ritmo de minhas sinapses:
Adagio - sinal de alerta. Melhor não insistir muito. É como um passo à beira do precipício da frustração. Improdução.
Allegro - glória à vista. A glória cotidiana do criar pequenas coisas, do assentar um tijolo que seja ao arcabouço das letras humanas (até porque nunca ouvi falar de nenhum outro bicho que escrevesse).
Vivace - o orgasmo do literato. Explosão de idéias, êxtase da criação literária. Momento raro. Como o pote de ouro no fim do arco-íris. Seguimos buscando.
Mas os tempos são outros. E cá estamos, sem maiores pretensões do que registrar as pequenas coisas do cotidiano, lançando um olhar às vezes ácido, às vezes poético, às vezes crítico, sobre tudo o que acontece à nossa volta e que não julgamos digno de nota.
Estamos vivos e isso, por si só, já é motivo de grande júbilo.
Celebremos, pois, a vida, com suas alegrias e agruras, seus caminhos e descaminhos.
Enquanto é tempo...
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