- Alô?! - ele não estava com a menor vontade de atender quem quer fosse naquele momento, mas o telefone berrava insistentemente. Melhor atender logo. "Se for telemarketing..." -pensou.
Pior, era a irmã, aos berros e soluços. Pode parecer difícil, à primeira vista, alguém berrar e soluçar ao mesmo tempo. Mas ela conseguia.
- Jaime? - e berros e soluços
- Oi, mana. - um entusiasmo capaz de fazer congelar um fondue de queijo. Não conseguiu conter um sorrisinho cínico ao tentar adivinhar o que o Aristides aprontara dessa vez. O Aristides era terrível.
- A mamãe!... - mais berros e soluços
- O que tem a mamãe, Carmem? - pronto, não foi o Aristides. Foi-se o sorrisinho. A mamãe é terrível.
- A mamãe desencarnou, Jaime! - e debulhou-se em lágrimas, berros e soluços.
- A mamãe o quê?! Carmem, pelo amor de Deus, eu não estou entendendo patavina. Você bebeu?!
- Claro que não. A mamãe teve um AVC e desencarnou, Jaime.
- Que história é essa de "desencarnou"? Explica essa história direito.
Ela respira fundo, tenta articular as palavras.
- É que estou frequentando um lugar onde as pessoas não usam o termo "morte", que é muito carregado e dá uma falsa impressão. Eu aprendi que a morte não existe, é apenas uma passagem para um plano diferente, que somos espíritos imortais e que nos encontramos com nossos entes queridos tanto do lado de cá quanto do lado de lá.
- Nossa! Você aprendeu tudo isso?!
- Sim...
- Então por que você está chorando?!
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