quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

NOTÍCIA DE VIDA


Notícias de morte, temo-las aos milhares. Algumas até, lamentavelmente, com sofisticados requintes de crueldade.
Deixe estar, que há bem pouco tempo atrás, apupávamos como macacos no Circo Máximo, o Vasco e Flamengo no Maracanã da Roma Antiga, quando os leões se lançavam famintos sobre os cristãos. Era golaço…
E hoje, causam-nos engulhos determinadas cenas de violência exibidas na TV.
Há que se reconhecer um sinal de evolução, quando os há. Alvíssaras!!!
Notícia de vida, que é bom mesmo, é coisa rara.
Volta e meia se noticia o resgate de um sobrevivente. Mas isso se dá com mais freqüência em tempos de grandes catástrofe.
Os sobreviventes das pequenas catástrofes pessoais cotidianas não vendem. Mas silenciosamente seguem vencendo seus tropeços, levantando e sacudindo a poeira. Sem estatística do IBGE, sem Fátima ou Datena.
Anônimos.
Silenciosos.
Mas estão lá.
Uma história de Vida, graças à Razão:
Vida se instalou ali.
Viu que era quentinho, aconchegante e resolveu ficar. Estava tudo prontinho.
A mãe da Vida nem sabia disso; não estava esperando. Nem o pai.
Vida simplesmente aconteceu. Mas, como tudo o que acontece tem uma razão, ou Razão, como queiram. E como Vida é parte de tudo, há de haver uma Razão por trás do acontecer.
A mãe andou falando em pedir Vida pra desocupar por um tempinho. “Tá muito cedo.” Sei lá, dar uma volta, voltar um pouco mais tarde.
Tirou opinião aqui, ali. Uns contra, uns a favor, a turma do “muito pelo contrário”.
A mulher de branco chegou. Tá com uma cara séria e uma coisa na mão.
Vida sabe que a mãe está deitada e ouve seu coração bater muito forte, parecendo pular no peito.
Vida está com medo. Prende a respiração. A mulher se aproxima e toca a mãe. Ela estremece.
Muito medo.
De repente um som invade a sala.
Vida reconhece o som de seu próprio coração ecoando nas paredes do consultório.
A mãe de Vida chora muito. E sorri. Nunca ouviu nada tão bonito. E a mulher de branco começa a falar um monte de coisas sobre Vida e a mãe se debulha em lágrimas e faz: ownnnnn…
Vida pode enfim respirar.
A mãe de Vida respira. Suspira.
A Razão inspira e a Humanidade exulta.
Vida venceu!!!
A propósito, a boneca da foto se chama Feijãozinho. E é a cara da mãe.

6 comentários:

  1. Nossa amei essa, que bom que compartilhamos isso juntos. Achei muito legal a maneira da abordagem, ficou simplesmente fantástica.
    Você...como sempre...sensivel e voraz nas palavras.
    Beijos fica com Deus
    Débora

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  2. eu tive alguns "feijõezinhos", eu amava...

    texto legal, complexo, mas bom.

    bjs

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  3. Vida venceu a vida da época.
    Feliz da Vida e que sejam felizes...

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  4. Olá

    Então... Seu texto é... Como posso dizer? Complexo, como disse a moça aí de cima, cheio de "requintes de crueldade" para com os leitores mais desavisados, que não percebem as entrelinhas.

    Gostei. Parabéns.
    Apareça no meu blog também
    www.temalgumacoisaerrada.blogspot.com
    Seguindo...

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  5. Obrigado pelos comentários...
    Quanto aos "requintes de crueldade" (rsrs - adorei isso), definitivamente, não são por mal...
    A tônica é fazer pensar...
    E tem certas coisas que só o coração pode escrever...
    Mais caro que narrar foi testemunhar o fato acima...
    Fato que, em pouco tempo, se Deus quiser, estará fazendo xixi, cocô e quebrando as coisas pela casa...
    Muita PAZ!!!

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