O REI E EU
Tinha
tudo pra ser apenas mais uma segunda-feira: cursinho de Inglês das nove às dez
da manhã, mãe na porta esperando em seu fusquinha cor de creme, correr pra
casa, terminar o dever, banho, almoço e Kombi da escola... UFA. Eu, então, com
menos de 10 anos, num tempo em que ainda se achava estacionamento na 25 de
Março. A “novidade” da semana anterior já esfriara para nós: um show do Roberto
Carlos no Campo do Estrela movimentara a cidade por alguns dias, causando
burburinho e falatório; mas já parecia ter acontecido em outra era e outro
planeta, sabe como é cabeça de menino...
Quando,
de repente, já no fusquinha, no caminho de volta à casa, a mãe vira a cabeça ao
passar de um carro e grita:
-
O ROBERTO!!!
Ao
grito seguiu-se uma guinada, dessas que a gente só vê em filme americano, e
eis-nos em perseguição ao carro que conduzia o Roberto Carlos...
Minha
mãe conseguiu se meter entre o carro do Rei e o dos guarda-costas, que não
gostaram nada disso, mas não fizeram mais do que muxoxos e balançar de cabeças;
segue o cortejo, atravessando a Ponte Municipal, direita na Rua Moreira,
esquerda na padaria do “Seo” Times, quebra uma pra cá, dobra uma pra lá e
eis-nos no largo da Matriz Velha, estacionando.
Era
ele, mesmo!... eu, que nunca tinha visto rei nenhum de perto, respirei aliviado
ao perceber que aquele que descia do carro, entrava de cabeça baixa na igreja,
caminhava meditativo pelo corredor principal, pra lá e pra cá, perguntava como
era mesmo que chamava aquela igreja, era tão de carne e osso quanto qualquer um
de nós.
É
claro que os ditos guarda-costas, já de olho em nós, pelo baile recebido no
trânsito, estavam à porta da igreja, garantindo a privacidade do Rei em seus
momentos de silêncio e reflexão. Mas uma senhora muito simpática e conversada
veio ter conosco, e eu quase tive um treco, quando descobri que se tratava de
ninguém menos do que a LADY LAURA, da música. E como é que se chama mãe de
rei?! Mãejestade?!
Foi
ela, então, que gentil e alegremente nos apresentou aio Rei, quando este saía
da igreja.
Rimos amarelissimamente, minha mãe, eu e minha irmã; sei que pedimos
autógrafos, mas não tínhamos uma folha de papel à mão, sequer um embrulho de
pão, para recebê-los; no talão de cheque, única fonte de papel na bolsa de
minha mãe, não dava...
Ficamos
sem autógrafo. Foto, então, à época, nem pensar: era artigo de luxo.
Ganhei
uma festinha do Rei e um beijo na testa. E esta história pra contar.
O
Rei ganhou mais um fã.
Sorte minha...
Ricardo Lemos é filho, pai,
namorado, escritor, jornalista, músico, compositor, geminiano, ruim de bola, fã
do Rei... enfim, um filho de Deus, como você.