domingo, 4 de setembro de 2011



NO ITORORÓ…

“Fui no Itororó beber água, não achei”…

Tá bom, não foi bem assim que aconteceu... de verdade, mesmo, eu fui parar na Lagoa de Boa Vista, ali na pontinha sul de Marataízes, já na divisa com Kennedy, em busca de belas fotos do entardecer. Não conhece o local?! Fica a sugestão. Algumas imagens podem ser vistas no meu blog: http://arroubosliterarios.blogspot.com.

De um lado, a lagoa, recebendo os raios dourados de um crepúsculo (sem vampiros ou lobisomens) repleto de espessas nuvens no longínquo horizonte, como robustas torres de um castelo escuro que parecia circundar meio orbe. Espetáculo gratuito e diário de uma natureza que não se cansa de crer que um dia inda a haveremos de respeitar. Nem por isso corriqueiro ou vulgar.

Do outro, o mar achocolatado e irrequieto, assolado pelo nordestão de setembro que já começa a dar as caras. Ao fundo, límpido e ignorante de ventos e correntes marinhas, o céu do nascente, à hora do poente, despedindo-se de mais um dia com um belíssimo degradê de azul, rosa e branco. Céu este que, um dia, me disseram, apresentar-se único em terras capixabas, sendo, por isso, o motivo de inspiração das cores e disposição das mesmas em nossa bandeira, que nos conclama a trabalhar e confiar. A história carece de confirmação e pode ser até que de veracidade. Mas é bela e edifica.

Eqüidistante a isso tudo, meus olhos maravilhados posicionam a lente da câmera, em busca do sonho de eternizar momentos, enquanto um senhor visivelmente embriagado me cutuca e puxa assunto.

“Apenas um bêbado chato”, terei pensado, num primeiro momento. Ou, como se diz por aí, terá sido a minha “primeira impressão”.

Meio a contragosto, emprestei-lhe os ouvidos, na esperança de que fosse breve. Afinal, pedindo licença para citar Reginaldo Rossi, “todo ‘bebum’ fica chato”. E o que me vem aos sentidos é uma torrente de emoções.

Atrás da máscara de bêbado, um pai comemora uma conquista esperada por onze anos: finalmente, depois de muito correr e recorrer, bufar, xingar, resmungar, orar, esperar e frustrar, abriram-se as portas para que a filha de onze anos tenha acesso a uma cirurgia esperada desde o seu nascimento: o mal a ser extirpado, de acordo com o pouco que pude compreender, é uma deformidade congênita que a menina traz no rosto, uma fealdade que, pelo embargo de sua voz, preferiria ver estampada em sua própria face (mostra os poucos dentes, como prova de uma promessa feita em prol da filha.

Atrás de uma primeira impressão desfavorável, uma segunda, comovida e solidária.

Apenas por parar por um instante e escutar, a surpresa de ouvir uma boa história “onde menos se espera”. A cara aparvalhada, a dicção prejudicada, os tapas no ombro com mão dura de pescador, os muitos copos de um alcoólico qualquer, ou vários; expressões de alívio de um pai que pode, finalmente respirar e repousar.

Humano, no melhor sentido da palavra…

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Ricardo Lemos é pai, filho, geminiano, escritor, jornalista, enxerido e avesso a primeiras impressões; enfim, um filho de Deus, como você. Atualmente publicando nos blogs Arroubos Literários, Olho Mágico 365 e TAMTA – incubadora de idéias. 

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