sábado, 27 de outubro de 2012

FILOSOFIA DE BUTIQUIM - A ARMA DO NEGÓCIO


A ARMA DO NEGÓCIO


De tanto ver a estrada naquelas condições, entrava ano, saía ano, Luís chegou à conclusão de que talvez fosse uma boa ideia abrir uma banquinha de borracheiro na vizinhança. Tinha buraco ali de desde antes do nascimento do mais velho, que já estava se alistando no Tiro de Guerra.

Sem contar que de tempos em tempos vinha gente de longe, montada em caminhão, com uniforme e cone pra dar manutenção... na placa, que dizia: “CUIDADO! BURACOS NA PISTA”. Envelhecia, enferrujava, caía e lá vinha o povo consertar...

A PLACA... a estrada, que é bom...

O negócio ia bem; Luís era um homem inteligente, antenado e sempre muito atento, priorizava o atendimento como forma de cativar o cliente. Coisa rara, em beira de estrada, onde o povo está sempre de passagem e morrendo de pressa. Mas como aquelas “panelas” davam a impressão de que ficariam ali no que restava de asfalto para sempre, vez ou outra aparecia um cliente antigo, só pra tomar um café ou pra consertar um pneu rasgado “no mesmo buraco que da vez passada, há 3 anos, você acredita?!”. É claro que ele acreditava; vivia daquilo.

Um dia, Luís resolveu dar um trato no negócio, uma melhorada na cara do estabelecimento e um afago na clientela: procurou Manelão, que se dizia pintor de letreiros, mas que era, na verdade, publicitário (ou será que, com a desculpa da má rima, era o contrário?!). Trazia uma ideia genial na cabeça: pintar com tinta amarela fosforescente um círculo ao redor dos buracos mais perigosos do trecho e, ao lado, os dizeres “BORRACHARIA DO LUÍS – 24 HORAS”. E até um mapa dos buracos que deveriam ser pintados.

Manelão elogiou muitíssimo a ideia, cobrou bem cobrado pelo serviço, passou alguns dias fazendo o “dizáine” do “leiaute”, levou pro cliente aprovar e, com menos de uma semana eis que a ideia de Luís, o borracheiro, ganhas as ruas... neste caso, o asfalto.

Luís deu uma conferida, adorou, criticou alguma coisinha, mas pagou o restante do combinado e foi pra sua borracharia, esperar os clientes com seus pneus furados e elogios pela iniciativa.
E esperou... sentado...

Nunca mais apareceu um cliente, sequer... Nem pra filar o café.

Antes de entrar em desespero e fechar o estabelecimento, Luís deu uma corrida pela margem da pista, em toda a sua extensão, tentando entender o que dera errado em seu plano de marketing.

E lá estavam os buracos, pintadinhos...

TODOS eles...

No momento, Luís anda à procura de um bom advogado.


Um comentário:

  1. um texto simples...sobre gente comum..exatamente o que nos faz exclamar no fim...há...já acabou!!!

    ResponderExcluir