FILOSOFIA DE BUTIQUIM – 13 de Dezembro de 2014
Dia desses, meu amigo Paramécio, ao sair de casa para procurar trabalho, teve a infeliz surpresa de pisar num daqueles cocôs de cachorro, bem na soleira do seu pequeno portão de ferro; e não era um cocozinho qualquer, e também não foi uma pisadinha qualquer; o fato é que sujou a barra , e quiçá bem mais, da calça tão cuidadosamente engomada para aquele tão esperado dia, da tão esperada entrevista de emprego.
É claro que ele teve que entrar novamente em casa, escolher uma outra calça, passar, espraguejar contra todos os cachorros da vizinhança, da cidade e do mundo, bufar, espernear, perdeu a condução, que naquele dia adiantou, mas que era sempre lerda...
Gritou: “Que falta de sorte! Lá se vai aentrevista de emprego.” E caiu em calculada fúria.
Daquele momento em diante, passou a acordar mais cedo, para descobrir qual era o vizinho que levava o cachorro cagão pra sua calçada; comprou para si, também, um cachorro, desses grandes; quando o vendedor da pet perguntou que tipo de cachorro ele queria, ele respondeu “um que faça muito cocô. E muita ração!”, pois pretendia juntar tudo o que o bicho produzisse, para, quando descobrisse quem era o vizinho do cachorro cagão, despejar tudo na sua calçada, bem em frente à sua porta. Eis a lição!
Justo ele, que era alérgico e detestava cães... mas ele inflava o peito e dizia para si mesmo e para o cão (ele preferiu não dar um nome ao bicho, para que ele não começasse a achar que eram amigos): “é por uma boa causa.”
Inflava cada vez menos o peito, à medida que os dias foram passando; o “cheiro” ia se tornando cada vez mais insuportável: tinha o cocô do cachorro, que ele guardava em sacolas, que já começavam a se empilhar pela área de serviço, ameaçando entrar pela cozinha; tinha o cachorro, que não tomava banho há semanas; e tinha ele, o próprio Paramécio, que ficava adiando o banho e até mesmo a escova de dentes, para não sair da frente da janela e arriscar perder o momento em que o vizinho do cachorro cagão passasse.
E nunca mais passou ninguém.
Até que um dia ele acordou, já com dia claro, o sol a entrar pela janela e lhe esmurrar o rosto, e um burburinho louco na calçada de sua casa; coçou os olhos, pensou : “Te peguei!”, enquanto colocava os óculos... e teve que olhar várias vezes, até entender que eram uns 10 cães de rua, todos fazendo suas necessidades na portinha da sua casa.
Quem entendesse língua de cachorro e estivesse passando ali por perto, poderia jurar que ouviu comentários sobre um novo banheiro público para cães, “mas bem que eles podiam dar uma limpeza de vez em quando”, e lamentando pela “sorte” do companheiro cão, que era forçado a viver sob o jugo de Paramécio;
“É o que eu chamo de ‘mundo humano’”, dizia um cão.
Moral da história: encher a sua casa com o que você deseja aos seus inimigos pode ser um péssimo negócio: além do tempo perdido, o afastamento dos amigos, o alheamento da própria vida, o mau cheiro... E a porta se abrindo às “más companhias”.
E a nossa casa é o nosso coração.
Teve a Lucinha, também, que um dia viu passar uma senhorinha e se compadeceu. E resolveu que guardaria para ela todas as flores que colhesse em seu jardim, daquele dia em diante, para ofertar para tão distinta mulher e lhe alegrar o coração.
Pela janela, ela via a senhorinha passando; a pilha de flores aumentando e Lucinha sempre se dizendo: “ainda não”...
Um dia, a senhorinha não passou mais; as flores murcharam, apodreceram e passaram a exalar um odor insuportável.
E Lucinha se sentiu injustiçada: suas intenções eram tão boas...
Excelente fim de semana a TODOS!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário