segunda-feira, 25 de maio de 2009

COLCHÕES NOVOS

Manhã de sábado!

Céu de um azul que dói. Sol aconchegante, arregalado no céu, a projetar seus raios como abraços de mãe, calorosos e ternos. Uma brisa que sopra de nordeste vem trazer um quase frio, daqueles que nos faz sentar e pensar na vida. Entrar no mar, nem pensar, que a água deve estar um gelo. Ainda mais que a maré está meio virada, dando essa cor meio café com um pingo de leite.

Importa não. Eu ficaria dias aqui nesse sol, nessa brisa, nessa companhia, só ouvindo o marulhar.

Daqui dá pra ver a estrada. Poucos carros passando. De repente um que me chama a atenção, antes mesmo de entrar em meu campo visual : ruído de sacolas ao vento, fazendo grande algazarra. Desvio meus olhos do gavião que faz evoluções ao vento, procurando não sei o quê na vegetação rasteira, e espero alguns segundos até que aquele ruído se transforme em visão.

Um carro velho, sei lá se Monza, se Chevette, sentido Saco dos Cações. Em cima um bagageiro. E sobre eles, quatro ou cinco colchões tinindo de novos, no plástico, ainda.

Imagino que seja o vendedor a fazer a entrega.

Esqueço o mar, o sol, essa brisa suave, até mesmo o gavião, que a essa altura já pousou novamente no mesmo galho, por cansar de procurar.

Esta noite, alguém vai se deitar em colchões novos.

Posso ouvir a algazarra dos meninos, correndo descalços atrás do carro que chega com sua algaravia de muitas sacolas ao vento, gritando “Mãe, o colchão chegou!”, espantando cachorro, levantando poeira pelo caminho.

Posso ver a mãe chegando à porta da casinha miúda, assomando ao terreiro, enxugando as mãos no pano de prato, um sorriso largo lhe tomando a cara, inundando de brilho os olhos cansados.

Posso ouvir o resmungo e o muxoxo da filha adolescente, que pra esses nunca nada tá bom: “humpf, grande coisa…”, revirando e encolhendo os ombros, enquanto tenta ajustar a sintonia da FM.

O pai tá na linda, ainda, que ainda tem muito sol por hoje. Mais tarde, terminado dia, que a labuta não finda, enxugar o suor da testa, uma pinga no boteco da vila, rumar pra casa. Quando chegar por lá, os meninos certamente estarão dando mil cambalhotas nos colchões velhos, que estarão imundos no meio do terreiro, galinhas bicando a palha que sai pelos mil rasgos do tecido, os cachorros olhando de longe. Os novos estarão já sobre as camas, devidamente vestidos com os melhores lençóis da família. Ao entrar no barraco, esconderá um pequeno sorriso de um grande triunfo.

Esta noite, alguém vai se deitar em colchões novos.

Há poesia nisso…

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