terça-feira, 24 de novembro de 2009

NO ÉDEN



Ela abriu os olhos e o viu ali, de pé, com aquela expressão de quem está completamente perdido.


Erguia as mãos até a altura dos olhos, mas estes pareciam pousados nalgum lugar muito adiante, indefinível. E aos poucos iam baixando por seu próprio corpo, até chegarem aos pés. E tornavam a subir, atônitos de dar pena.


Ela, pedra curiosa que era, sempre atenta a todas as mudanças que ocorriam à sua volta (e que houveram sido muitas nos últimos dias), não fazia idéia de onde viera aquele forasteiro, mas não podia perder a oportunidade de puxar assunto:


- Bom dia! Você está bem? Parece meio confuso.


Ele olhou pra ela com aquele ar desolado de quem está diante de um perigo iminente e, pior, desconhecido.


- Amiga pedra, não está me reconhecendo? – e chegou mais perto.


- Sinto muito, mas receio que nunca nos tenhamos visto.


- Há poucas horas estávamos aqui mesmo, conversando, reclamando da algazarra que essa bicharada, vinda não sei de onde, anda fazendo por aí.


- Poucas o quê?!


- Poucas horas. É uma maneira de contar o tempo.


- Não faço idéia do que sejam horas. Aliás, mesmo tempo é algo de que eu tenho muito pouca noção do que seja.


- É estranho, mas parece que essa idéia surgiu assim, na minha, hã… cabeça, de repente. Do nada. E, junto com ela, mais um monte de outras coisas que eu jamais havia pensado. Pra falar a verdade, eu nem cabeça tinha.


- Não! Eu estou reconhecendo esse jeito de falar!... Meu Deus! Não pode ser! Você é… o barro?


- Eu mesmo! Em carne e osso! – e deu um sorriso amarelo, meio desanimado. Era uma piadinha infame, dessas que há até bem pouco tempo não se envergonharia. Mas agora era diferente.


- Mas você está horrível! Me desculpe, mas nós, as pedras, somos sempre sinceras. Contundentes, eu diria. Como é que isso foi lhe acontecer?!


- Não faço a menor idéia. Eu estava quietinho no meu canto, quando senti que mãos me tocavam, como se me massageassem, e aquilo era bom. Eu relaxei, me deixei levar por aquele torpor, e, de repente, senti um vento, ou melhor, algo como um sopro, percorrendo todo o meu corpo. E pronto, fiquei assim. Mas espero que seja apenas um mal estar passageiro.


- Oh, meu amigo! Eu sinto muitíssimo por você. Agora me diga: fora a confusão por todas essas idéias novas na cabeça que você agora tem, como é que está se sentindo?


- É estranho, mas sinto-me cheio de… como me explico… vida!


- Hummm! E isso dói?


- Não dói nada. Mas eu receio que seja mortal.

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