terça-feira, 10 de novembro de 2009

TEMPOS MODERNOS - SOLIDÃO

O relógio finalmente marcou as tão esperadas cinco horas.

Fechou a gaveta, remexeu na bolsa, certificando-se de que estava tudo lá, conferiu a mesa de trabalho mais uma vez.

Levantou-se e rumou apressadamente em direção à saída, resmungando "até amanhã" e "boa noite" aos colegas de trabalho.

No hall do elevador, enquanto esperava, uma amiga a cumprimenta efusivamente e começa a disparar uma série de frases que lhe pareceram ininteligíveis. Parece, não estava bem certa, que a convidou para um happy hour ou coisa parecida, que cuidou de recusar meio polida, meio distante. Estava com pressa. Tinha assuntos urgentes a tratar.

Parou rapidamente no mercado da esquina, comprou alguns enlatados, creme dental, sabonete; somente o essencial, pra agüentar até o fim do mês. Na caixa registradora, a atendente puxou conversa, como sempre fazia com os clientes mais assíduos. Mas ela parecia não escutar. Balbuciou qualquer coisa e despediu-se apressada.

Tomou o ônibus na parada de sempre, onde sempre as mesmas caras pareciam aguardar ansiosamente a aparição do coletivo descendo a movimentada avenida. Evitava olhar para os lados, como se assim inibisse os habituais colegas de se aproximarem e puxarem conversa. Olhava o relógio a cada cinco segundos, como se pudesse acelerar a marcha do tempo ou dissipar a balbúrdia do trânsito.

Embarcou, procurou um assento. Impossível, principalmente naquele horário. Um jovem cedeu-lhe lugar para que se sentasse (coisa raríssima nos dias de hoje), ela agradeceu entre dentes e de olhos baixos e antes que ele pudesse lhe dirigir qualquer gracejo, sacou da bolsa um livrinho e fingiu mergulhar na leitura.

Desceu do ônibus e percorreu a passos rápidos e com os olhos grudados no chão as duas quadras que lhe separavam do pequeno apartamento.

Cumprimentou com um grunhido o porteiro, pensou em checar a caixa postal, mas desistiu. Venceu os seis lances de escada que a levariam ao terceiro andar já com as chaves na mão.

Escancarou a porta, largou a bolsa e as sacolas de compras sobre a mesa, fez um ligeiro cafuné no gato, que apareceu preguiçosamente mais para ver que barulho era aquele que pra cumprimentá-la e correu para o quarto, sentando-se em frente ao computador que permanecera ligado e digitando freneticamente : WWW. CHATSOLIDAO.COM.BR.

Sentia-se só.

Precisava muito conversar com alguém.

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