terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SUA CASA É SEU REINO

Um abonadíssimo cheque árabe, preocupado com a crise habitacional em seu principado, lançou um desafio mundial endereçado aos empreendedores da construção civil, em busca de uma solução econômica e humanamente viável para a situação.

Desejava custear moradias que fossem seguras, decentes e confortáveis para seu povo, que vivia em situação relativamente precária no deserto, abrigando-se em tendas de pele de camelo e suportando as tremendas variações térmicas do local.

Choveram propostas de todos os cantos do mundo, que foram analisadas por uma comissão de renomados profissionais e aos poucos a seleção foi se estreitando a algumas poucas idéias.

Findo o processo, o cheque (sheik, se preferirem) decidiria pessoalmente entre os projetos classificados.

Um, em particular, lhe atraiu a simpatia.

Tratava-se de um projeto ricamente apresentado por uma empresa brasileira, que se desmanchava em elogios à utilização de madeira de reflorestamento para a construção das unidades habitacionais pretendidas, listando as inúmeras vantagens nos quesitos segurança, conforto, bem estar, sustentabilidade e custo.

Era formidável.

Logo um sem número de assessores cuidavam dos detalhes e papelada necessários para que o cheque pudesse visitar a empresa agraciada com o prêmio e fechar o negócio pessoalmente. Fazia questão de apertar a mão daquele que considerava uma sumidade.

Chegando ao Brasil, tapetes vermelhos, limusines, restaurantes suntuosos, iates e noitadas foram a tônica da agenda organizada pela empresa vencedora. Mas o fechamento do negócio, propriamente dito, era sistematicamente protelado pelo cheque.

No último dia da visita, fizeram uma visita de helicóptero à pequena floresta particular de onde a empresa retiraria a matéria prima para a construção das casas, numa fazenda próxima à cidade. O "passeio" culminou com um rico almoço oferecido pelo empresário brasileiro em sua casa a toda a comitiva árabe. Presentes, naturalmente, políticos, colunáveis, socialites e uma série de outros comensais que não tinham nada a ver com o negócio.

Ao fim do banquete, o empresário pede a palavra para agradecer a visita dos ilustres convidados e aproveita para enaltecer mais uma vez as qualidades do seu projeto, destacando mais uma vez as qualidades da madeira brasileira, principalmente da sua.

O cheque, ao fim do discurso, levanta-se para saudar os anfitriões, agradecer pela calorosa recepção e pela magnífica oportunidade de conhecer um país tão rico e suntuoso, com uma gente tão hospitaleira e feliz. E aproveita para anunciar que decidira modificar os planos, dando o prêmio de melhor projeto a outra empresa.

Um falatório geral instalou-se na imensa sala de jantar.

O empresário saiu de fininho e deu um jeito de fazer com que seus assessores trouxessem o cheque a uma sala reservada, para uma reunião de emergência. Aquilo não podia estar acontecendo.

Visivelmente transtornado pelo anúncio do visitante, faz-lhe todas as perguntas que lhe vieram à cabeça naquele instante.

O cheque responde com grande educação que não vira nada de errado, que lhe causaram grande admiração a empresa, a floresta, os canteiros de obras, a fazenda. Tudo muito organizado e bem cuidado.

- Eu não consigo entender! – repetia o empresário. – Se está tudo certo com a empresa, com a fazenda, com as obras, com tudo, onde está o problema? Será então alguma coisa com a minha casa?!

- Não há nada de errado com sua casa. Ela é magnífica.

- Então?!...

- Mas é de tijolos…

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