domingo, 21 de junho de 2009

LIVRO DE CABECEIRA



Gostou tanto de "Fogo nos Lençóis" que fez questão de comparecer à concorridíssima noite de autógrafos do escritor na livraria da cidade.


Precisava ver de perto aquele homem que a fizera suspirar tantas vezes e tão profundamente. Custava-lhe mesmo crer que aquilo tudo fora escrito por um homem.


Pois fora, mesmo. E acabou se casando com ele. E quando suas amigas lhe dissessem que "Fogo nos Lençóis", ou qualquer outra obra do Mário era seu livro de cabeceira, ela poderia estufar o peito e dizer: "Pois eu tenho um escritor de cabeceira." E sorria de contentamento. Casara-se com o escritor dos mais tórridos romances da atualidade.


"Quando a noite descia sobre a cidade, como um negro véu aureolado de estrelas, e a brisa trazia um doce aroma dos campos adjacentes, ele escalava a janela do sobrado com uma rosa vermelha na boca e uma garrafa de espumante embaixo do braço. Encontrava-a semi adormecida no leito, com sua camisola negra de seda e três gotas de Chanel número 5. Despertava-a com seus beijos famintos, sorvendo seu perfume a longos haustos, enquanto sua mão percorria seu corpo com avidez, explorando cada recôndito de sua pele, descobrindo seus pontos de prazer mais ocultos. Seus gemidos e suspiros eram abafados apenas pelo bolero que entoava o quarteto de cordas que ele contratara e que agora tocavam à sua janela. O ambiente cheirava a sexo selvagem, a entrega total, estavam prestes a se lançar num precipício; fosse a queda ou vôo o resultado daquele momento, não havia mais retorno: a luxúria tomara conta de seus corpos e desejava suas almas."


Enquanto ele escrevia tudo aquilo, ela terminava de ver a novela, desligava a TV, virava para o canto e dormia.


Em outros quartos do país, uma donzela lia "Fogo nos Lençóis" e suspirava.

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