quarta-feira, 4 de novembro de 2009

DIA DE OLHAR PRO CÉU





Já andei reclamando algumas vezes sobre o reformismo que querem impor (até agora eu não tive a menor coragem ou disposição de procurar saber quem) em nossa Língua (assim mesmo, com possessivo em primeira pessoa do plural e escrita em maiúscula, para que não paire nenhuma dúvida ou se dê margem a trocadilhos infames – é preciso muito cuidado: hoje em dia, mesmo o mais inocente dos verbetes pode se transformar em ofensa cabeludíssima. Mas é claro que isso depende muito mais de quem lê do que de quem escreve).


Meus pingüins não perderam o trema até hoje e confesso que tentei com bastante ênfase ter idéias sem acento, mas me pareceram insossas e inconsistentes (eu diria esdrúxulas, soaria mais realista); prova disso é o silêncio sepulcral que esta coluna testemunhou nos últimos muitos dias.


Enfim, chega de queixas! Meus tímidos protestos arrebanharam pouquíssimos (mas sinceros) seguidores e nada mudou. Deixemos essas modernidades pra meninada que está sendo alfabetizada agora. Escrevamos certo ou errado, eles terão mesmo que encontrar um motivo pra rir de nós no futuro. Só estou facilitando as coisas.


Peço encarecidamente que não me chamem de adesista. Mas já que já mudou e não tem como voltar atrás, gostaria de convidar os amigos mais atentos a uma análise superficial sobre algo que poderiam (ou deveriam) modificar: os dias da semana.


É "feira" pra lá, "feira" pra cá, e os nossos vizinhos lingüísticos com remissões muito mais elevadas, se não românticas. Tomemos como exemplo os dias da semana em espanhol, italiano e francês, respectivamente, por serem idiomas derivados do latim, como o nosso.


Vejamos:


Segunda feira (com ou sem hífen?) – LUNES, LUNEDI, LUNDI – o dia da Lua.


Terça feira – MARTES, MARTEDI, MARDI – dia de Marte.


Quarta feira – MIERCOLES, MERCOLEDI, MERCREDI – dia de Mercúrio.


Quinta feira – JUEVES, GIOVEDI, JEUDI – dia de Júpiter.


Sexta feira – VIERNES, VENERDI, VENDREDI – dia de Vênus.


Ora bolas! Enquanto nossos parceiros nessa latinidade que canta são semanalmente convidados a olhar para o céu, buscando a inacessível altitude dos astros, nossos dias remetem à xepa, ao regateio e ao tomate meio apodrecido.


No sábado e no domingo eu não mexeria.


Sábado provavelmente deriva do Shabat hebraico e Domingo vem de Dominus, do latim, o que um dia talvez devesse ser entendido como o dia do Senhor. E nessas coisas a gente não deve ficar mexendo muito.


Se bem que em Inglês, Saturday (dia de Saturno) e Sunday (dia do Sol), além de darem continuidade ao raciocínio latino, soam até que bem bonitinhos.


Mas deixa isso pra lá. Já ficou mais que claro que fim de semana por essas bandas é sagrado. Modificar pode gerar uma grita geral, movimentar as massas, gerar uma polêmica indesejada. Longe de nós.


Não se mexe nos fins de semana.


A menos que seja para prolongar.


Mas aí não importa o nome que se vai dar.

2 comentários:

  1. Tem coisas que causam tanta poeira quando são mexidas, que muitos preferem deixar tudo arrumado.
    Acho que cabe aí sua colocação.
    Tá muito legal e desejo sucesso no seu livro, muito sucesso mesmo.
    Beijos.

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  2. Concordo com vc. Quando fala da nossa Língua (com seus apartes) e quando fala dos dias da semana... Aliás, já pensou? Eu, assim como sou, ia adorar dizer: "vejo vc no Dia de Júpiter e, talvez, por enquanto só talvez, fico até o Dia de Vênus..."

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