terça-feira, 30 de junho de 2009

MAIS PERGUNTAS (quem nunca ouviu essa?)


- VOCÊ, POR ACASO, SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?!


- NÃO. MAS NO DIA EM QUE EU DESCOBRIR, EU FUJO...

PERGUNTAS SEM RESPOSTA (ainda bem)


Ela aperta os olhos com fúria, projetando faíscas. Se olhar desse choque...


- Quem você pensa que é?!


Ele suspira. Vai começar tudo de novo.


À sua mente hiperativa vêm milhares de respostas: o barro, o sopro divino, a costela, Caim e Abel e a primeira cena de ciúme do mundo judaico-cristão, o dilúvio, os bichinhos todos dentro da arca... apaga tudo. Deixou de acreditar nessas coisas há muito tempo. O DNA, o barro primordial de um planeta em ebulição, as descargas elétricas telúricas, a Inteligência Suprema disfarçando-se de acaso, mitoses, meioses, evolução, Cro-Magnon, Homo erectus, Homo eletricus, não tão sapiens assim.


E antes que venha a nova pergunta, que sempre vem ("Você não escutou ou não entendeu?"), ele já está passando por Sócrates, Siddartha, Jesus Cristo, Santo Agostinho... melhor parar. Não vai adiantar nada responder, ele bem sabe. Ele sempre responde e ela sempre torna a perguntar. Talvez não escute. Ou não entenda.


- Sabe que eu tenho pensado bastante nisso e ainda não cheguei a uma conclusão definitiva?


- Nisso o quê?! - perplexidade em sua voz.


- Em quem eu penso que sou... essa coisa do existencial, quem somos, de onde viemos, para onde vamos, por que vivemos. Penso, logo existo. Isso basta.


- Você não acha que está passando da hora de parar com essas bobagens?


- Não mesmo. A bem da verdade, acho que está na hora de começar com essas bobagens.


- Você ainda não respondeu à minha pergunta...


- Não sei. Não quero saber. Tenho pena de quem sabe. Mas se isso é assim tão importante pra você, experimente perguntar ao ZÔTO.




MÚSICA - TEM NOVIDADE NO AR



Desponta uma nova estrela nesse nosso universo musical tão rico e variado.


Falo de MILA MAIO com a autoridade de quem viu nascer e crescer, de quem a ouviu falar Jacaré pela primeira vez (ninguém acreditou, na época - mas tinha que ser em Marataízes... tem certas coisas que só acontecem lá).


Falo de MILA MAIO como quem fala de uma prima caçula de quem há muito não ouvia falar. E que de repente ouve cantar, por vezes com voz forte e cadência doce. Por vezes com voz doce e cadência forte.


Falo de MILA MAIO na categoria de mais novo fã e divulgador.


Falo porque essa menina vai dar o que falar.


E como é de música que falo, melhor calar.


Passa lá, ouça o que ela tem a dizer e me fala se não vale a pena.
www.milamaio.com


P.S. - pra Gabi - graniteira, como nós... tadinha...rsrs

sexta-feira, 26 de junho de 2009


VAGALUMEAR
VAGO LUMIAR
ESTAMOS TÃO LONGE DA CONDIÇÃO DE ESTRELAS...
SOMOS MEROS PONTOS DE LUZ
A VAGAR
DEVAGAR
DIVAGAR

QUEDA LIVRE


FOI COMO FECHAR OS OLHOS

E ESPERAR QUE AS PALAVRAS VIESSEM COMO NUM SONHO,

PASSE DE MÁGICA QUE NÃO ACONTECEU.


FOI COMO CERRAR OS PUNHOS

E DEIXAR-ME EMBRIAGAR PELA CIDADE

E SUAS IMENSAS CONSTRUÇÕES DE PEDRA.

PODEM SER PESADELOS OU VERTIGENS.


FOI COMO FECHAR OS OLHOS

E LANÇAR-ME DO TEU VIGÉSIMO ANDAR

SEM JAMAIS ATINGIR O CHÃO.

SEM JAMAIS ATINGIR O CÉU.


ACHO QUE VIREI UM PASSARINHO

A ESPIAR TUA JANELA.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A GENTE PENSA UMA COISA...



- Aonde você vai?

- Vou mudar de roupa e sair pra cuidar da vida.

- Mas você está nua!

- Sim, algum problema?

- Como é que pode mudar de roupa, se não está vestindo nada?


Para um instante, olha pro nada, pensa: "Você tem razão." Puxa a dobra do edredom e desliza rapidamente seu corpo esguio para perto do dele.


- Uai, desistiu?!

- O dia mal começou e você já me vem com um problema insolúvel desses. Fico com medo só de pensar no que me esperará lá fora.

- Eu também acho.


E fizeram amor de novo e dormiram mais um pouco.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

FIO D'ÁGUA


FIO D'ÁGUA

MEU SONHO QUE ESCORRE

ENTRE PEDRAS E GENTE

E TALVEZ DESÁGUE NO MAR


FIO DE ÁGUA E LUZ

QUE ESCORRE LOUCO

SOB O SOL QUE O DOURA

E EVAPORA


FIO D'ÁGUA

QUE AGORA É NUVEM

A PAIRAR

SOBRE O ABISMO DO MUNDO


FIO D'ÁGUA

QUASE UM TODO DE MIM

QUE O SOL NOS EVAPORE

E NOS FAÇA CHOVER

E NOS FAÇA MAR

E NOS FAÇA AMAR

terça-feira, 23 de junho de 2009

TROVINHA



FUI BUSCAR UM COPO D'ÁGUA

PRA SEDE DO MEU AMOR

MEU AMOR ADORMECEU

BOTEI UMA ROSA DENTRO

E VIROU UM VASO DE FLOR

segunda-feira, 22 de junho de 2009

GOTAS






PERGUNTAS INÚTEIS



- Perdi meu relógio…


- Perdeu ONDE?!?!



- Eu perdi o relógio e tu o teu tempo; se soubéssemos onde perdemos o que perdemos, não seria decerto perdido.



- Deixemos de lado essa discussão pseudofilosófica e tomemos um café.



- Já não era sem tempo!



-x-x-x-



- O larápio fugiu…



- Fugiu para ONDE?!?!



- É uma bela pergunta, mas não consegui encontrar nenhum bilhete dizendo, o que me leva a crer que quem foge não avisa aonde vai.



- E agora, o que faremos?!?! (sempre muito enfático, com um ar desconsolado)



- Tomemos um café e consolemo-nos com a idéia mui verdadeira que de nós poderá ter fugido, mas de si próprio, jamais poderá fazê-lo.



- Pra mim um capuccino… sem creme.



-x-x-x-



- Por que essa cara?!



- Estou há horas na frente deste maldito computador e não consigo dar um desfecho decente à minha história!



- Um o quê?!



- Um DESFECHO.



- Mas você ainda não começou?



- Claro que sim. Já está tudo aqui: introdução, desenvolvimento, como mandam as boas técnicas de redação; agora só me falta o desfecho.



- Palavra engraçada… DES-FECHO. Parece indicar exatamente o oposto do que quer dizer.



- Eu não crio as palavras, apenas as uso.



- Mas deveria pensar nisso. Afinal de contas, deseja usar as palavras como ferramenta de trabalho.



- Muito obrigado pelo conselho. Mas posso pensar nisso depois?



- É como DES-FERIR. Se eu desfiro golpes em alguém é com o intuito de ferir e não o contrário.



- Assim eu DES-ANIMO. Por que não aproveita que está querendo me ajudar a DES-ENROLAR isso aqui e me traz um café?



- Só tem DES-CAFEINADO.



- Ai!



- Que foi?!



- DES-ISTO.

FALA POR SI PRÓPRIO...

domingo, 21 de junho de 2009

LIVRO DE CABECEIRA



Gostou tanto de "Fogo nos Lençóis" que fez questão de comparecer à concorridíssima noite de autógrafos do escritor na livraria da cidade.


Precisava ver de perto aquele homem que a fizera suspirar tantas vezes e tão profundamente. Custava-lhe mesmo crer que aquilo tudo fora escrito por um homem.


Pois fora, mesmo. E acabou se casando com ele. E quando suas amigas lhe dissessem que "Fogo nos Lençóis", ou qualquer outra obra do Mário era seu livro de cabeceira, ela poderia estufar o peito e dizer: "Pois eu tenho um escritor de cabeceira." E sorria de contentamento. Casara-se com o escritor dos mais tórridos romances da atualidade.


"Quando a noite descia sobre a cidade, como um negro véu aureolado de estrelas, e a brisa trazia um doce aroma dos campos adjacentes, ele escalava a janela do sobrado com uma rosa vermelha na boca e uma garrafa de espumante embaixo do braço. Encontrava-a semi adormecida no leito, com sua camisola negra de seda e três gotas de Chanel número 5. Despertava-a com seus beijos famintos, sorvendo seu perfume a longos haustos, enquanto sua mão percorria seu corpo com avidez, explorando cada recôndito de sua pele, descobrindo seus pontos de prazer mais ocultos. Seus gemidos e suspiros eram abafados apenas pelo bolero que entoava o quarteto de cordas que ele contratara e que agora tocavam à sua janela. O ambiente cheirava a sexo selvagem, a entrega total, estavam prestes a se lançar num precipício; fosse a queda ou vôo o resultado daquele momento, não havia mais retorno: a luxúria tomara conta de seus corpos e desejava suas almas."


Enquanto ele escrevia tudo aquilo, ela terminava de ver a novela, desligava a TV, virava para o canto e dormia.


Em outros quartos do país, uma donzela lia "Fogo nos Lençóis" e suspirava.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

ROTINAS


Fim de mais uma extenuante semana de trabalho.


Hora de dar uma olhadinha por aí, a ver o que andam fazendo os personagens desse nosso mundo.


As amostras que se seguem foram selecionadas por sorteio e os nomes e identidades dos entrevistados serão mantidos sob o mais estrito sigilo, como forma de preservação de nossas fontes.


EMPRESÁRIO – Esta semana eu peguei a ponte aérea 4 vezes, fechei 3 contratos milionários, sendo 2 com o governo federal, demiti 147 colaboradores, recebi uma delegação de empresários chineses em busca do estabelecimento de uma parceria multinacional, joguei squash, pilotei meu iate, fui ao cardiologista, desmarquei mais uma vez o analista, faltei a academia duas vezes, tive uma reunião com o advogado da minha ex-mulher e uma assembléia geral do conselho da empresa.


JOGADOR DE FUTEBOL – Esta semana eu marquei 3 gols, classifiquei meu time para as quartas de final do campeonato, dei entrevista pra duas redes nacionais de TV e uma local, 3 emissoras de rádio e dois jornais, fugi da concentração pra balada duas noites, levei dois cartões amarelos e um vermelho, treinei todas as manhãs, comprei um carro esporte novo, conversei com olheiros de um grande clube europeu sobre a possível compra do meu passe e assinei um contrato de publicidade milionário com uma empresa de materiais esportivos.


PALHAÇO – Esta semana eu ensaiei todas as manhãs, ajudei o domador a recolher o elefante, que estava fugindo, briguei com a equilibrista, fiz seis espetáculos noturnos e quatro diurnos, fui aplaudido por centenas de crianças e adultos, remendei minha calça azul com estrelas amarelas, comprei um kit novo de maquiagem, ajudei na desmontagem do camarim e partimos pra outra cidade.


NEUROCIRURGIÃO – Esta semana eu liderei uma equipe numa complicada cirurgia de implantação de células tronco na medula óssea de um paciente de Alzheimer, dei uma palestra na Universidade Stanford, onde sou professor honorário, sobre os avanços da neurocirurgia no terceiro milênio, participei de uma cirurgia virtual, interligado via satélite com colegas do Hospital de Xangai, para a extirpação de um tumor maligno no lobo parietal, dei uma entrevista por telefone à revista Science Today e recebi uma comissão do governo federal interessada na implantação de um centro de referência em neurocirurgia e afins em nossa região.


MENDIGO – Esta semana eu perambulei pelas ruas da cidade, fui enxotado por três comerciantes, importunado por dois policiais, dormi duas noites na praça principal e as outras por aí, rachei dois litros de pinga com o Sabugo, banquei o flanelinha na porta daquele restaurante da Avenida 13 de Maio, tendo que me esconder dos seguranças, comi duas vezes na casa da Dona Margarida, meu cachorro apareceu com uma namorada e já tá prenha a filha da puta, a Gildete, minha parceira, fugiu com o Caolho e o meu cafofo embaixo do viaduto foi desmanchado pela prefeitura.

ATOR DE FILME PORNÔ NACIONAL - relato suprimido por conter detalhes inapropriados ao veículo de comunicação.

POLÍTICO CORRUPTO – Esta semana eu visitei minha base eleitoral, reuni-me com assessores do meu estado, embolsei uma propina dos empresários locais, em troca de apoio num projeto de lei que concede anistia fiscal praquele bando de sonegadores, abracei eleitores, afinal de contas, nunca se sabe, tirei fotos com criancinhas sujas e remelentas no colo, tomei o avião pra Brasília, pendurei o paletó no meu gabinete, confabulei com a liderança do partido em prol do arquivamento do processo de cassação de alguns colegas, participei da sabatina ao presidente do Banco Central, pra poder aparecer no noticiário, dei entrevista àquela jornalista antipática mas gostosa, jantei duas noites no Pirandello e tomei o avião de volta pra casa na quinta-feira.

TODOS – Essa rotina ainda me mata!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A ALMA DO NEGÓCIO





O sujeito me tem a sorte de sobreviver a um naufrágio, desses que acontecem num ponto latitudinalmente eqüidistante entre o nada e o lugar nenhum.


Nada freneticamente durante dias e noites a fio (vai-se saber quantos… tenho perdido a noção do tempo até enquanto escovo os dentes, imagina o cara perdido no meio do oceano preocupado com que horas são), esquivando-se de tubarões famintos e da própria fome (chegou a tentar fazer de almoço um tubarãozinho martelo mais desavisado, mas dessa vez quem se deu bem na esquiva foi ele), driblando a sede, o sol e o frio. Nada sem saber pra onde, mas acredita firmemente que deve ser para lá…


Uma hora avista uma ilha (isso sempre acontece) e reúne os últimos resquícios de suas forças para conseguir alcançá-la. Dentro d'água as coisas parecem estar muito mais próximas do que realmente estão. Mas ele chega.


Bom, todo mundo já viu esse filme: o cara chega extenuado na praia, olha pro céu, acaba achando uns coqueiros, mata a sede, senta na praia, lança um olhar perdido sobre o oceano sem fim e suspira. Até que lhe vem a idéia iluminada de escrever um gigantesco SOS na areia da praia, com galhos e escombros do navio, que misteriosamente chegaram até ali antes dele. E acender uma grande fogueira, cuja alimentação constante seria sua maior preocupação até o momento em que seu salvador lhe mandasse a cordinha do helicóptero.


Caprichou na caligrafia, montou a fogueira como se fazia nas noites de São João em sua terrinha natal (nessas horas o sujeito se enche de reminiscências, não tem como evitar) e toca a olhar pro céu, esperando o barulho do avião que lhe há de resgatar.


Uma semana se passa e nada dele chegar. Resolve mudar de estratégia e escreve, ainda maior "HELP". E mais uma semana silenciosa se passa.


Vai agregando ao seu imenso letreiro a palavra 'SOCORRO' em todas as línguas que conhece, inclusive em português. Quanto menos noção de tempo lhe sobra, mais rápido este vai passando, varrendo consigo as esperanças de um dia tornar a ver a civilização. Ou talvez já seja tarde demais quando isso venha a ocorrer. Mas não esmorece.


Um belo dia (e como são belos os dias naquela remota ilha sabe-se lá de que oceano) acorda puto e decidido. Escova os dentes, lava o rosto, ajeita os cabelos (vai que a Pamela Anderson o está esperando na praia, liderando a equipe de resgate) e corre para a praia sem tomar o desjejum. Remove todos os troncos, galhos, mastros, destroços e empilha desordenadamente num canto da praia. Alguém que estivesse olhando de cima poderia pensar até que ele resolvera reescrever sua mensagem em mandarim.


Enxuga o suor da testa, aperta os olhos na direção do horizonte e começa a reorganizar os troncos. Nessa labuta, segue incansavelmente até o pôr do sol daquele dia. Acende seis fogueiras com o último palito de fósforo da caixa (???) e com o pouco que lhe resta de luz solar, trepa num coqueiro próximo para conferir seu trabalho.


Lá está, numa caligrafia perfeita:


IMPERDÍVEL


GRANDE RAVE DA FLORESTA


CERVEJA, ICE E RED BULL – 1,99 ATÉ ½ NOITE


RESERVAS : 5555 1234


Choveram telefonemas…

GOTAS


• Nada é o que parece tanto quanto deveria parecer que é.

• A virtude de que mais me orgulho é a minha humildade.

• É possível alguém morrer com um tiro à queima roupa estando nu?

• Tirava as roupas do varal, passava a ferro, guardava no guarda-roupa (será que é assim que ainda se escreve isso?!). Tomava um cafezinho. Tirava as roupas do guarda-roupa, metia no tanque, lavava tudo de novo, pendurava a secar. E explicava: “Se esperar sujar pra lavar de novo, dá muito mais trabalho.”

• Tudo nem sempre é muito. Muito nem sempre tudo. Mas nada é sempre coisa nenhuma.

• Antes só do que também.

• Antes nunca que tarde demais.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

UM BRILHO

Acordei como acordava todos os dias, com aquela impressão de que as noites eram sempre menores que meu sono.

Travei o despertador, espreguicei na cama, esticando-me como um gato e dirigi-me pesadamente ao banheiro.

Xixi, escovar os dentes, lavar o rosto e só então arriscar uma rápida olhadela no espelho, para ver se permanecia tudo no lugar.

Mas havia algo diferente aquela manhã.

Alguma coisa brilhava em meu rosto.

Sorri, movi lentamente a cabeça para os lados, para cima e para baixo.

Não era uma ilusão.

Definitivamente, havia um brilho novo em meu rosto naquela manhã e tudo agora me parecia mais leve, belo e iluminado.

Fui tomado pelo sentimento que precede a vitória iminente: “Finalmente, meu dia chegou!”- pensei.

Saí do banheiro com um amplo sorriso no rosto e dei-lhe um “bom dia” de tenor italiano (é óbvio que ela detestava toda aquela animação àquela hora da manhã, mas naquele dia eu não tinha como resistir. Alguma coisa brilhava em mim e eu sentia que isso era apenas o começo).

Respondeu-me bocejando e apertando os olhos.

“Chega aqui”

Cheguei.

“Mais perto. Tem alguma coisa brilhando em você.”

“Ela notou!” – pensei. “É a glória.”

Estendeu as mãos, tocou meu rosto.

“Pronto, tirei. Era um resto de purpurina. Onde foi que você esteve ontem à noite?”

Desconversei e saí pra comprar o pão.

ERA UMA VEZ UM JARDIM...


Era uma vez um jardim…


Não era um desses jardins de capa de revista, exuberante e harmonioso, fengshuizado e photoshopado. Um dia fora muito bem cuidado, quando a sua criadora ainda esbanjava saúde e vitalidade. Mas hoje, ali no quintal dos fundos daquela casa antiga, era apenas um jardim comum, onde raras vezes alguém pisava.


Era, portanto, o ambiente perfeito para que a vida tomasse conta. E vida não faltava ali.

Dona Joaninha passeava suas cores fortes entre as folhagens, silenciosa e sempre muito discreta. “Seu” Percevejo, apesar dos odores que vez por outra exalava, exasperando os vizinhos, exibia seu verde muito vivo, muitas vezes confundindo-se com a vegetação. As formiguinhas, sempre laboriosas e mudas, passavam pra lá e pra cá, numa azáfama incessante, sempre trocando confidências entre si, mas geralmente alheias a tudo que lhes ocorria à volta.

Um escaravelho lustroso aparecia de vez em quando, não se sabe de onde; suas estadas eram sempre curtas, mas nunca despercebidas, que um bicho de tal porte e robustez não se deixa de notar facilmente.

Dominando a pequena lagoa (sim, a dona da casa mandara construir uma lagoa artificial onde outrora plácidas carpas japonesas exibiam sua preguiçosa majestade, bons tempos aqueles!), um pequeno sapinho amarelo, de olhos muito arregalados e temperamento instável, alternava momentos de profunda introspecção imerso na turbidez da água parada com outros de grande estardalhaço, com seu coaxar agudo e repetitivo a ensurdecer todos os passantes.

Mas quem mandava mesmo no pedaço era o Sr. Beija Flor, com sua alada empáfia, seu minúsculo peito coberto de penas em matizes verdes, azulados e prateados, seu majestoso bico pontiagudo e seu nervoso zunzum, a passar freneticamente entre flores e bichos durante todo o dia, exercendo a função que se arrogara naquele manso jardim: patrulheiro da estética e das boas aparências.

Apraziam-lhe sobremaneira as reuniões, onde esbanjava ordens e críticas (eram sua especialidade) a tudo e a todos.

- Sr. Percevejo, lamento ter que repreendê-lo publicamente (era muito polido o Sr. Beija Flor), mas o Conselho reuniu-se e votou uma moção contra o odor que o senhor vem exalando com demasiada freqüência nos últimos dias. Portanto, gostaria de sugerir que o senhor se matriculasse em um curso de boas maneiras e prestasse maior atenção aos salutares hábitos de higiene pessoal! – e o Sr. Percevejo apenas assentia, cabisbaixo. Não adiantava discutir com o “chefe”, embora ninguém soubesse de que Conselho ele invariavelmente enchia a boca para falar.

- Senhora Formiga Operária número 4537, é meu dever tornar público o desagravo deste Conselho ao não comparecimento, mais uma vez, de Sua Majestade, a Rainha, a este evento de vital importância à nossa sociedade (a rainha nunca comparecia, o que sempre irritava o Beija Flor, que detestava tratar com subalternos)! – e a operária permanecia em silêncio, balançando nervosamente as quatro perninhas sob a mesa e pensando em quantas folhas deixava de carregar enquanto escutava aquela baboseira.


Naquele dia o líder da bicharada estava especialmente eloqüente e enfático:

- Senhores moradores, as atribuições do meu cargo me obrigam a trazer à discussão um assunto da maior relevância à manutenção da estética e da boa aparência em nossa sociedade. É com grande desprazer que trago ao conhecimento das senhoras e dos senhores que nosso jardim foi recentemente invadido (nesse instante apagam-se as luzes, suspense na sala, apenas a luz transparente de um projetor sobre uma tela branca ilumina o ambiente) por uma asquerosa LAGARTA (e surge então sobre a tela uma foto em close de uma lagarta verde, como muitas outras que há por aí, com seu corpo gosmento e disforme, antenas que parecem chifres, seu ar pachorrento).

Os membros entreolharam-se, sem muito entender ou dar importância, e o Sr. Beija Flor prosseguiu em seu discurso inflamado, informando dos riscos que tal invasão representava à beleza do sítio em que habitavam, que tanto lhes custava para manter sempre belo e harmonioso; de como era importante reprimir exemplarmente todo e qualquer tipo de invasão de seres estranhos àquela sociedade, face ao risco de se disseminar uma onda migratória de indivíduos asquerosos; de que a tolerância para com tais abusos poderia, mesmo, culminar em uma ação radical por parte dos humanos, no sentido de promover a erradicação de pestes, o que traria efeitos nocivos e desagradáveis a todos os moradores.

A arenga prosseguiu acalorada por longos minutos, ao fim dos quais concluiu dramaticamente o Sr. Beija Flor:

- Proponho, como medida de emergência, em nome do bem de nossa sociedade, que realizemos uma votação em favor da expulsão da horripilante (e torceu o bico) LAGARTA de nosso jardim. – e todos permaneceram mudos, uns com o olhar perdido em um ponto qualquer da sala, outros quase cochilando. – Aqueles que forem favoráveis à moção que propomos, que permaneçam sentados e em silêncio.

Ninguém falou nada e o presidente da sessão deu-a por encerrada, com um ar triunfante e só não diremos um sorriso nos lábios por não esquecermos que a uma ave nos referimos.

Na manhã seguinte, bem cedinho, que essas coisas não são de esperar, parte o Sr. Beija Flor com seu peito estufado, em busca da infame lagarta, que encontra a tentar escalar o tronco de uma velha amoreira. Sem muitos rodeios ou delongas, comunica a decisão sumária e unânime do egrégio conselho de moradores daquele jardim de declarar a senhora lagarta “persona non grata”, decidindo pela expulsão imediata e dando-lhe um prazo até o pôr do sol daquele dia para que partisse e não mais retornasse.

Dona Lagarta, pobrezinha, que muda estava, muda escutou e muda permaneceu, nada entendeu daquela sentença proferida com escárnio por um beijaflor que vira passar voando algumas vezes por si em sua curta estada pelo jardim. Só não deu de ombros porque ombros não tinha; estava habituada ao escárnio e à execração, ela que sempre buscara pautar sua vidinha na total discrição, para não incomodar ninguém com nada mais que apenas sua feiúra.


Mas já que a meio tronco da amoreira estava, resolveu subir mais um pouco, dar uma última olhada no jardim onde pensara poder passar em paz seus dias, comer algumas folhinhas, que em poucas horas empreenderia nova caminhada sem destino certo, sem saber quando poderia contar com outra refeição. E subindo absorta em seus pensamentos, chegou ao mais alto galho, de onde avistava boa parte da cidade que teria que cruzar em sua busca por um novo lar.

De repente um torpor irresistível toma conta de seu mirrado corpo. Para não despencar daquela altura, agarra-se com firmeza a um galho, tentando lutar contra o sono e a queda. Sua cabeça girava vertiginosamente e aos poucos suas forças foram se esvaindo, entregando-se nossa heroína à própria sorte, ou quiçá à própria morte.

Desfaleceu, entrando num estado profundo de letargia, sono sem sonhos. A morte devia ser assim, foi o último pensamento que lhe ocorreu.

Nos dias que se seguiram, a vida transcorreu normalmente no pequenino jardim. Cada bicho cuidando de sua própria vida e o Senhor Beija Flor da vida de todos. Pavoneava-se a todo instante, pelo excelente serviço prestado à comunidade: eliminar a iminente invasão das asquerosas lagartas verdes e gosmentas.

Os dias se foram passando e o tempo, como o tempo sempre faz, foi legando ao esquecimento o terrível destino de nossa querida amiga lagarta, de quem nunca mais se soube o paradeiro.
Dias mais tarde, e olha que dia de bicho demora muito mais a passar que o nosso, novo alarme: uma sombra passeava pelo piso do jardim, demorando-se aqui e acolá.

Inicialmente pensou-se em um grande pássaro predador, daqueles que há muito não apareciam por ali. Um tanto alarmada, a bicharada tratou de adotar as medidas de precaução cabíveis, procurando um tronco ou buraco no chão onde se esconder. Do Senhor Beija Flor, de quem se esperaria um pulso firme também nesta situação de emergência, comprovada ou não, ninguém teve notícia. Diz-se mesmo que foi o primeiro a desaparecer.

A sombra foi diminuindo, diminuindo, até que, aos poucos, uma pequena jóia mostrou-se descendo placidamente do céu, agora já ao alcance da visão de nossos aterrorizados amigos: uma borboleta, das mais lindas que já se vira sobre a Terra (é um exagero, decerto, que a Terra, prum inseto, será uma abstração. O fato é que por ali jamais aparecera tão bela.). Os raios de sol lhe refletiam nas asas, projetando reflexos em vários tons de azul e dourado, provocando um deslumbramento em todos os bichos ao redor, que a essa hora já estavam todos aglomerados em torno da belíssima aparição, com exceção do Sr. Beija Flor, que permanecia bem escondido sabe-se lá onde.

- Seja bem vinda, Sra. Borboleta! – disseram alguns. Outros apenas mantiveram-se boquiabertos diante de tamanha beleza.

Quando pôde ouvir de longe um tom de quase normalidade no burburinho do jardim, quando antes esperava gritos e lamentos desesperados, eis que o Sr. Beija Flor resolve desentocar-se para tomar pé da situação e, naturalmente, assumir o comando.

Abrindo caminho entre a bicharada, para que pudesse chegar ao centro da multidão que se formara, deparou-se com a majestosa Sra. Borboleta, que gentilmente conversava com todos os que dela se acercavam, respondendo com humildade e doçura a todos os curiosos. É claro que arregalou os olhos ao deparar-se com a esfuziante beleza que irradiava da inesperada visitante. Como claro também é que, como seria de se esperar, fez o que pôde e o que não pôde para ocultar sua estupefação.

- Boa tarde! – pigarreou. – Venho na condição de líder desta humilde comunidade (e como a palavra humilde, vinda de seu bico, soava volumosa…) oferecer-lhe as boas vindas. Chamo-me Beija Flor e gostaria de colocar-me à sua disposição para lhe apresentar o lugar e fazer o que estiver ao meu alcance para que sua estada seja das mais agradáveis.

- Boa tarde, Senhor Beija Flor. Muito obrigada pela gentileza, mas creio que já nos conhecemos. E, quanto ao jardim, gostaria de lhe informar que já me é familiar.

É óbvio que jamais ouviríamos o nosso orgulhoso (e agora com algumas pitadas de inveja e despeito) amigo dizer: “como, eu jamais me esqueceria de um encontro com tamanha majestade e beleza”. Mas que foi o que ele pensou, isso com certeza foi. Em vez disso:

- É possível que sim, e perdoe-me por não recordar, mas quer dizer que a senhora já esteve por estas paragens antes?

- Na verdade foi aqui que nasci.

- Oh, sim?! Que feliz ocasião, então, de registrar que a boa filha à casa torna.

- Sim, deveras. Embora sinta ter que lhe informar que desde meu nascimento, jamais deixei este lugar. Em minha breve vida de borboleta, aqui nasci e me criei.

- Ora, deve haver algum engano…

- Engano nenhum, Sr. Beija Flor. Acontece que até poucos dias atrás eu não passava de uma lagarta, a fazer nada mais que rastejar e comer. Algo me passou, antes que eu pudesse obedecer à sua ordem de deixar este lugar, por decisão unânime da assembléia dos cidadãos. Acabo de despertar de um sono profundo, e estou pronta pra acatar a decisão da maioria.

Nesse instante, após um burburinho, toda a bicharada dirige um olhar de reprovação ao Sr. Beija Flor, que não consegue esconder sua perplexidade.

Esta história poderia terminar com uma generalizada vaia a um derrotado Beija Flor enxotado pela bicharada, deixando cabisbaixo o jardim e o trono. Com a Sra. Borboleta sendo aclamada pela população a nova líder daquele grupo, usando de sua humildade e sabedoria para governar e aplicar a justiça em seu sentido mais amplo e belo.

Só que inda vai longe o dia em que os sábios, humildes e justos ocuparão os tronos dos jardins por esse mundo afora.

Inda vai longe. Mas esse dia chega…

sexta-feira, 5 de junho de 2009

PROTESTO CONTRA O MEDO COMO FERRAMENTA EDUCATIVA - OLHA O ZÔTO AÍ


Quando crianças somos assolados por um sem número de temores infundados, por obra e graça de adultos incompetentes que nos inculcam medos de toda classe de personagens aterradores, imaginários ou reais:
- Se você for ali o “veio do saco” vai te pegar!
- Olha a mula sem cabeça! O Lobisomem (eu já contei o caso de um amigo que encontrou o Lobisomem em pleno centro da cidade?!)


Bicho papão, a Cuca, o Boi da Cara Preta. Isso sem falar nos ciganos, que quando chegavam na cidade, para nós, era como se tivéssemos entrado em estado de sítio, com a constante ameaça da súbita aparição daquelas mulheres com suas saias imensas e coloridíssimas, e o medo de que nos enfiassem embaixo delas e nos carregassem para seus acampamentos de lonas laranja, onde nunca mais seríamos encontrados; ou daqueles homens com seus chapéus de caubói e seus dentes de ouro, sempre sorrindo não se sabe por quê, que nos agarrassem e lançassem nas garupas de seus cavalos, levando-nos igualmente para as já referidas tendas amarelas, de onde não haveria escapatória.


Tem o caso da vizinha que gritava o lixeiro, toda vez que a filha sumia de casa. E olha que a menina tinha gosto por sumir de casa, o que significa que a ameaça não funcionava e volta e meia, lá do outro lado da rua escutávamos os berros raivosos da mãe: “Lixeiroooooo!!!”

Mas é quando vamos atingindo a adolescência que começamos a temer um ser imaginário e implacável, que em muitos casos nos há de perseguir por toda a nossa vida. Conheço, mesmo, casos de senhoras encarquilhadas, enroladas em seus xales, sentindo nos ossos um frio que não existe em Cachoeiro; e senhores respeitáveis, do alto de suas muitas décadas, curvando-se ao temor injustificado desse terrível ser criado pelo imaginário pessoal, que, mesmo não existindo, é capaz de lançar sua terrível teia e espalhar o terror onde quer que seu nome seja pronunciado: o ZÔTO.


Alguns darão de ombros e dirão nunca ter ouvido falar de tal monstro. Ledo engano. Mas vamos aos fatos, pois é possível que não estejam ligando o nome à pessoa:


CENA 1 (lembrando e ressaltando que se tratam de cenas fictícias e qualquer semelhança com fatos da vida real terão sido mera coincidência)

MÃE (mãe é um bicho que morre de medo do ZÔTO) – Menino, onde você pensa que vai com essa camiseta velha e esse chinelo no pé?!
FILHO – Vou sair, uai!
MÃE – De jeito nenhum! O ZÔTO vai falar que você é um mendigo, que seu pai quebrou de vez, que você não tem mãe… (Esqueci de esclarecer: é isso que o ZÔTO faz. Ele não rouba criancinha, nem faz mingau ou sabão: ele FALA.)

CENA 2


FILHO – Mãe, to pensando em colocar um brinco igual ao do Jô!
MÃE – Deus me livre! O ZÔTO vai falar que você virou viado! (Assim mesmo, com “i”.)

CENA 3


MÃE – Comprei um violão pro Filho.
PAI – Pra quê você foi fazer isso?! O ZÔTO vai dizer que ele vai virar vagabundo!

CENA 4

FILHA – Mãe, estou me separando do Orestes e vou passar uns tempos por aqui, até conseguir um emprego e uma casinha pra alugar.
MÃE – Ai, meu Deus! O que o ZÔTO vai falar?

E por aí vai.

Aposto que agora você já está começando a concordar comigo.

O fato é que, por mais que tentemos negar a influência desse terrível monstro em nossas vidas, ele está lá, sempre a espreitar.

Posso até garantir que ele estará lendo este pequeno e despretensioso comentário, sorrindo entre dentes com o canto de seus imaginários lábios e pensando: “Eu ainda te pego!”

Mas o ZÔTO não pega. Ele só FALA.

ESTATÍSTICAS

Geruza e Aguinaldo são daqueles casais que parecem desafiar as estatísticas. Dez anos de casamento, mais uns dois de noivado e uns quatro de namoro (eles meio que divergem quanto a isso, mas muito civilizadamente), o que já dá uma vida inteira. E o que é ainda mais notável : FELIZES.

Dois filhos na escola, uma pré adolescente e um quase, não têm os melhores empregos do mundo, dividem as prestações do apartamento de dois quartos num bairro classe média média, mais o financiamento do carro, esticam o orçamento e passam férias em Piúma aonde, apesar de terem conseguido, a duras penas, construir uma casinha modesta a 5 quadras do mar, só vão mesmo no verão, embora todo ano soem aquelas promessas de aparecer mais durante o ano, afinal de contas, “é tão pertinho!”

Enfim, um caso raro de longevidade conjugal.

Numa bela tarde de sábado estão os dois a “vitrinar” pelo Shopping Sul (sim, o Aguinaldo ainda acompanha a Geruza ao shopping), enquanto os filhos assistem a um lançamento no cinema, quando são abordados por uma dessas mocinhas com cara de 12 anos e maquiagem de 30, metida numa calça jeans de cós baixo apertadíssima e uma camiseta baby look amarela, com uma prancheta na mão. Aguinaldo tenta disfarçar, fingir que não está vendo, cortar caminho, assobiar, qualquer coisa. Mas o shopping está perigosamente vazio naquela tarde, e a menina do instituto de pesquisas não tem mais ninguém para entrevistar e coitada, pensa Geruza, “a menina precisa trabalhar. Não custa nada ajudar.”

- Boa tarde! Eu sou do Instituto de Pesquisas IBOTE. Nós estamos fazendo uma pesquisa sobre relacionamento para a Folha de Cachoeiro e gostaríamos de estar fazendo algumas perguntas, se a senhora não se importar. É muito rápido, leva menos de dois minutos pra responder. – tudo isso ela falou sem parar pra respirar, o que deixou o Aguinaldo à beira de uma apneia (alguém tem que explicar ao meu computador que o Acordo Ortográfico já está em vigência e que apneia não tem mais acento).

- Boa tarde, pois não!... – foi a amável e sorridente resposta de Geruza.

Nome, idade, profissão, estado civil, primeiras, segundas, terceiras núpcias ou outras, tempo de casada, etc, etc, etc e a menina vai enchendo freneticamente os quadradinhos de seu calhamaço de formulários. E o Aguinaldo sorrindo resignadamente por dentro. É claro que ele não acreditara naquela história de dois minutos.

- O tema da nossa pesquisa é “A Vida Sexual dos Casais Casados”. – aquela menina recém saída das fraldas dizendo isso com tanta naturalidade, como quem comentava o novo sucesso da mais nova dupla sertaneja deixou Aguinaldo um pouco desconcertado. E quando enfim caiu a ficha de que o casal casado em questão eram ele e Geruza, o desconcerto passou rapidamente a desconforto, desespero, etc, etc, etc…

À medida que as perguntas iam sendo lançadas e Geruza respondendo com a maior naturalidade do mundo, como se transmitisse a uma velha amiga de infância a receita do bolo de milho verde da vovó Geralda, Aguinaldo ia arregalando os olhos, transpirando por todos os poros, mudando de cor, passando por todos os matizes do arco-íris e alguns mais que ele nem conhecia (pra essa coisa de cor homem é realmente horrível – está cientificamente comprovado), ao ponto de o segurança do shopping chegar perto e perguntar se ele estava se sentindo bem, se não gostaria de se sentar um pouco, ao que ele respondia apenas balançando a cabeça freneticamente.

Após quase vinte minutos, uma quase síncope e uma poça de suor no chão, finalmente as duas se despedem amavelmente. Geruza ainda ganhou de brinde uma caneta do Instituto IBOTE, o que certamente daria briga entre as crianças.

Aguinaldo está lívido como cal e arfante como um pássaro ferido.

- Está sentindo alguma coisa, meu bem? – sim, eles se tratam por meu bem, nos momentos sérios. Na intimidade são Gê e Gui.

- Estou chocado! Não, acho que apavorado seria a palavra mais indicada. Como é possível conviver tanto tempo com uma pessoa, achando que a conhece como a palma da própria mão e, de repente, descobrir que não era nada daquilo!...

- Do que você está falando, meu bem? Agora quem está ficando preocupada sou eu.

- Dessa pesquisa louca. De como você é capaz de revelar nossa intimidade sexual a uma menina recém saída dos cueiros e que você nunca viu na vida…

- Uma gracinha a mocinha, né?! – e sorriu inocentemente – Meu amor, – agora com aquele tom de voz maternal típico - você está supervalorizando…

- Geruza! – ele quase nunca a chamava assim e raramente a interrompia, a coisa parecia séria. – Você nunca me disse nada sobre achar excessiva a freqüência com que eu te procuro na cama, ou sobre se preocupar muito mais com qualidade do que com a quantidade de nossas relações! – quando um dos parceiros refere-se àquilo com tamanha formalidade é sinal inequívoco de que realmente está levando o assunto muito a sério.

- Hum!

- E eu nunca imaginei na minha vida que você fosse capaz de simular um orgasmo!

- Hum! – e o rosto dela vai se iluminando aos poucos, como quem escuta uma criança contando uma história absurda.

- E as dores de cabeça, o fato de fantasiar que está transando com outros homens – e foi, gesticulando muito, listando todas as respostas chocantes que jamais imaginara ouvir da boca da própria mulher, enquanto ela balançava a cabeça lentamente e sorria.

- Meu amor, você está reagindo de forma exagerada a uma coisa tão sem importância. Quantas vezes eu já te disse que você é o marido mais maravilhoso do mundo e o homem com quem eu desejo dividir a minha cama para o resto da vida?

- Mas…

- Bobinho, todo preocupado! – e o sorriso crescendo no rosto.

- Mas aquelas respostas todas… como é que você pôde?!

- Você acreditou naquilo, meu amor?! Era tudo mentira! Você não achou mesmo que eu fosse capaz de abrir assim a nossa vida sexual a uma menina que eu nunca vi na vida, achou?! Que eu sairia por aí dizendo que além de tudo somos um sucesso na cama?! Francamente… - e uma gargalhada contida, afinal de contas estão no meio do saguão do shopping.

- Mas… Por quê?!

- Meu bem o que a moça ia pensar de mim?!

Silêncio…

Naquela noite quem teve dor de cabeça foi ele.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O MAIOR PRESENTE DE TODOS



Ontem tive a felicidade de completar mais um junho, ao lado das pessoas que amo.

E o maior de todos os presentes de todos me veio de um pequeno poeta: GABRIEL TEIXEIRA CARVALHO DE OLIVEIRA LEMOS - nome de anjo, fibra de campeão, alma de artista.

Escritor nato, responsável por algumas das páginas mais importantes da minha vida, que ainda está apenas no começo, perto dele sou um iniciante.


ABRE ASPAS

FELIZ ANIVERSÁRIO


HOJE É SEU ANIVERSÁRIO
A ALEGRIA ESTÁ NO AR
E O PARABÉNS TODOS ESTÃO A CANTAR

HOJE É O SEU DIA
LHE DESEJO MUITAS FELICIDADES,
QUE VOCÊ TENHA MUITA ALEGRIA
COM TODAS SUAS AMIZADES

HOJE É SEU DIA
E UM ANO VOCÊ CRESCEU
QUE VOCÊ POSSA SE DIVERTIR
COM MUITAS OPORTUNIDADES PARA RIR

FELIZ ANIVERSÁRIO,
EU DIGO DO FUNDO DO CORAÇÃO,
FELIZ ANIVERSÁRIO
PRA VOCÊ MEU AMIGÃO

01/06/2009 - Gabriel

FECHA ASPAS

Parabéns a você, filho amado!

Que cada dia da sua vida seja uma página escrita com muito amor, ternura e sucesso.

Sou seu fã número UM!

TE AMO!!!