quarta-feira, 17 de junho de 2009

A ALMA DO NEGÓCIO





O sujeito me tem a sorte de sobreviver a um naufrágio, desses que acontecem num ponto latitudinalmente eqüidistante entre o nada e o lugar nenhum.


Nada freneticamente durante dias e noites a fio (vai-se saber quantos… tenho perdido a noção do tempo até enquanto escovo os dentes, imagina o cara perdido no meio do oceano preocupado com que horas são), esquivando-se de tubarões famintos e da própria fome (chegou a tentar fazer de almoço um tubarãozinho martelo mais desavisado, mas dessa vez quem se deu bem na esquiva foi ele), driblando a sede, o sol e o frio. Nada sem saber pra onde, mas acredita firmemente que deve ser para lá…


Uma hora avista uma ilha (isso sempre acontece) e reúne os últimos resquícios de suas forças para conseguir alcançá-la. Dentro d'água as coisas parecem estar muito mais próximas do que realmente estão. Mas ele chega.


Bom, todo mundo já viu esse filme: o cara chega extenuado na praia, olha pro céu, acaba achando uns coqueiros, mata a sede, senta na praia, lança um olhar perdido sobre o oceano sem fim e suspira. Até que lhe vem a idéia iluminada de escrever um gigantesco SOS na areia da praia, com galhos e escombros do navio, que misteriosamente chegaram até ali antes dele. E acender uma grande fogueira, cuja alimentação constante seria sua maior preocupação até o momento em que seu salvador lhe mandasse a cordinha do helicóptero.


Caprichou na caligrafia, montou a fogueira como se fazia nas noites de São João em sua terrinha natal (nessas horas o sujeito se enche de reminiscências, não tem como evitar) e toca a olhar pro céu, esperando o barulho do avião que lhe há de resgatar.


Uma semana se passa e nada dele chegar. Resolve mudar de estratégia e escreve, ainda maior "HELP". E mais uma semana silenciosa se passa.


Vai agregando ao seu imenso letreiro a palavra 'SOCORRO' em todas as línguas que conhece, inclusive em português. Quanto menos noção de tempo lhe sobra, mais rápido este vai passando, varrendo consigo as esperanças de um dia tornar a ver a civilização. Ou talvez já seja tarde demais quando isso venha a ocorrer. Mas não esmorece.


Um belo dia (e como são belos os dias naquela remota ilha sabe-se lá de que oceano) acorda puto e decidido. Escova os dentes, lava o rosto, ajeita os cabelos (vai que a Pamela Anderson o está esperando na praia, liderando a equipe de resgate) e corre para a praia sem tomar o desjejum. Remove todos os troncos, galhos, mastros, destroços e empilha desordenadamente num canto da praia. Alguém que estivesse olhando de cima poderia pensar até que ele resolvera reescrever sua mensagem em mandarim.


Enxuga o suor da testa, aperta os olhos na direção do horizonte e começa a reorganizar os troncos. Nessa labuta, segue incansavelmente até o pôr do sol daquele dia. Acende seis fogueiras com o último palito de fósforo da caixa (???) e com o pouco que lhe resta de luz solar, trepa num coqueiro próximo para conferir seu trabalho.


Lá está, numa caligrafia perfeita:


IMPERDÍVEL


GRANDE RAVE DA FLORESTA


CERVEJA, ICE E RED BULL – 1,99 ATÉ ½ NOITE


RESERVAS : 5555 1234


Choveram telefonemas…

Um comentário:

  1. Rs...!! Só faltava por: "mulher até ooh não paga"...
    Beijos...,
    Ana Lúcia.

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