quinta-feira, 2 de julho de 2009

CHAPEUZINHO V. MAU - UM DIA QUALQUER


AVISO IMPORTANTE : se você ainda não leu o post anterior, sugerimos veementemente que o faça antes de prosseguir. Não pela ordem do escritor, mas pela ordem dos escritos (por aqui a gente lê de cabeça pra baixo, ri por escrito. Seja bem vindo ao século XXI).


Dando continuidade à discussão sobre a possível miopia ou sonseira de Chapeuzinho Vermelho, participamos de um dia como outro qualquer na vida do casal Chapeuzinho e Lobo Mau, que ora relatamos, no intuito de dirimir possíveis dúvidas. Afinal de contas, nada como uma incursão na vida cotidiana de um casal para se tecer um diagnóstico preciso sobre as mazelas vigentes.

A residência da família Mau é simples, porém confortável. Localizada num bairro residencial afastado da cidade, a meio caminho de Mundo Real e Conto de Fadas, o lugar é aprazível, com boa vizinhança classe média média (isso ainda existe por lá) e qualidade de vida razoável.

O Sr. Lobo Mau, que trabalha para uma corretora de seguros que acaba de ser vendida a uma multinacional que acaba de falir, dirige todos os dias até o seu escritório no centro da cidade, retornando sempre por volta das 18 horas.

Naquele dia ele chegou meio desanimado, pelo trânsito, pelas contas que se avolumam, pelas dificuldades na transição da direção da empresa, metas, etc, etc, etc. Estaciona seu carro ao lado da casa, ruma até a porta dos fundos com ar cansado, gravata frouxa no colarinho, paletó no braço esquerdo, a velha pastinha preta na mão direita.

Foi entrando em silêncio, aos poucos inteirando-se da balbúrdia doméstica: a TV ligada com o volume na maior altura sem ninguém assistindo, a velha máquina de lavar a todo vapor, fazendo tremer o piso, Chapeuzinho pendurada ao telefone com sabe-se lá quem.

- Querida, cheguei!

- Oi, querido! Chegou cedo hoje. Que bom! Um minutinho que eu já estou terminando aqui e tenho duas ou três coisinhas urgentes pra falar com você.

Ele se deixa cair na poltrona da sala de estar. Ela sempre está “terminando aqui”, ele já sabe bem o tempo que isso leva. E sempre tem “duas ou três coisinhas” pra falar. Ele também já sabe muito bem o tempo que isso leva.

Ela chega esbaforida, esbarrando nos móveis, falando muito, gesticulando ainda mais. A lâmpada do corredor que queimou, a moça do cartão de crédito ligou de novo pedindo uma previsão de pagamento, o plano de saúde subiu, afinal de contas estamos ficando velhos, a professora de balé da Marina mandou um bilhete reclamando dos atrasos freqüentes, isso, aquilo, aquilo outro e esse maldito cachorro, que eu já te pedi mais de mil vezes pra prender lá fora!

- Cachorro?!

- É, cachorro, sim senhor! Quantas vezes eu já te pedi pra manter esse bicho acorrentado em sua casinha? Hoje ele passou o dia inteiro perambulando pela casa, sujando tudo, ganindo como um doido e se enroscando em minhas pernas. Olha aí, lá vem ele de novo!

- Mas querida, esse aí é o Júnior!

- Hã?!

E segue a controvérsia…

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