quinta-feira, 16 de julho de 2009

PRA ENTENDER O ZÔTO


Pra começo de conversa, o título acima está completamente equivocado. Não se entende o ZÔTO. Por mais que eu tente explicar, e talvez o faça por mais tempo que o necessário, se alguém assentir com a cabeça ao final de tal explicação, dizendo : “sim, agora eu entendi”, das duas uma – ou a pessoa estará mentindo, pra pôr um ponto final no assunto, pois não agüenta mais ouvir falar desse tal bicho que todo mundo sabe que existe mas que jamais foi visto por qualquer ser vivente; ou, no caso de a afirmativa ter sido de uma honestidade inquestionável e o interlocutor acreditar piamente que finalmente entendeu tudo sobre o ZÔTO, ela certamente estará enganada (não pense o leitor que passaram despercebidos os excessivos advérbios que acabo de utilizar – pia, final e certaMENTE. Foram deixados dessa forma propositalMENTE. Quando o assunto é ZÔTO a quantidade de MENTE nunca é excessiva.); você pode acreditar ou não na existência do ZÔTO. Você pode temer o ZÔTO ou não. Mas você jamais poderá entendê-lo.

Diremos que o ZÔTO é um monstro mitológico contemporâneo.

Dizemos contemporâneo em seu sentido lato. Desde que o mundo é mundo e haja mais de duas pessoas, aí está formado o território ideal de atuação dessa sórdida criatura. A Bíblia mesmo está repleta de relatos de situações em que o ZÔTO apronta das suas. Desde antes do dilúvio (não, Noé não tinha um casal de ZÔTO na arca), passando por Jó e culminando em Jesus Cristo. O ZÔTO não crucificou Jesus; mas que andou fazendo a cabeça de Pilatos, isso com certeza andou.

Mitológico porque até o momento a Ciência (dessas que se escreve com “C” maiúsculo) carece de provas da existência do mesmo. Não existem fotos, conversas gravadas, pegadas, nenhum vestígio. As incessantes investigações que se levam a cabo por todo o planeta resultam improdutivas, porque todas as vezes em que se acredita conseguir uma aproximação com o famigerado, depara-se com um interlocutor do interlocutor do ZÔTO. Nunca se conseguiu entrevistar alguém que houvesse estado face a face com o próprio.

Como os elementos materiais são pouquíssimos e de pouca confiabilidade, fiemo-nos em presunções, das quais pode discordar livremente o caro amigo:

Características morfológicas – impossível determinar ou mesmo especular sobre a forma de tal entidade, uma vez que não existem relatos confiáveis de alguém que a tenha visto. Porém acreditamos que o ZÔTO possua uma capacidade de mimetização considerável. Afinal de contas, se ele está sempre por aí, testemunhando tudo, e ninguém consegue ver, é sinal de que se disfarça muito bem.

Mas seguindo no terreno das suposições quanto à aparência do bicho, acreditamos que o mesmo possua olhos muito grandes, capazes de enxergar à distância até mesmo (e ousaríamos dizer principalmente) o que não acontece. Uma língua avantajada e extremamente venenosa, capaz de movimentar-se com extrema velocidade e discrição. E um nariz altamente especializado, capaz de farejar a vida alheia a quilômetros de distância.

Características fisiológicas – os resultados das pesquisas conduzidas até o momento permitem pressupor que o ZÔTO alimenta-se da vida alheia, sendo altamente capaz de manipulá-la. Sabe-se que ingere pelos grandes olhos tudo o que vê, acha que vê ou inventa que viu. É de uma voracidade inverossímil, sentindo-se na necessidade de aumentar consideravelmente toda a matéria que ingere, a fim de possibilitar sua digestão. Além de possuir grande autonomia: quando não possui do que se alimentar, cria do nada (e é justamente neste momento em que ele é mais pernicioso).

E que sua excreção dá-se pela boca, na forma de boatos, impropérios, maledicências, calúnias, difamações (nunca injúrias); tais excrementos são popularmente conhecidos como FOFOCAS e, uma vez processados pelos vetores de transmissão do ZÔTO, transformam-se em “APENAS COMENTÁRIOS”.

Por algum tempo chegou-se a crer que o ZÔTO babasse, uma vez que a expressão “BABADO FORTÍSSIMO” era utilizada com freqüência por quem quer que estivesse sob a mefítica influência da besta. Mas estudos aprofundados demonstraram que esta era apenas mais uma denominação eufemística para os excrementos produzidos pelo mesmo.

Quanto ao modus operandi, tem-se por certo que o ZÔTO prefere regiões demograficamente ocupadas (ecúmenos), tanto em zonas rurais quanto urbanas, sendo que sua atuação perde efeito gradualmente, à medida em que aumentam a população, o grau de civilização e o nível educacional (daquele que não se obtém em escola).

Entre suas vítimas menos prováveis estão aqueles indivíduos que têm mais o que fazer. Ele pode até tentar, mas geralmente sem êxito. A menos que o “ter mais o que fazer” seja apenas uma ferramenta retórica da vítima em potencial, o que o ZÔTO testa com meias insinuações. São iscas muito bem elaboradas que podem colocar em risco os detentores de menos firmeza. Cuidado!


E sabe-se também que ele nunca ataca frontalmente as suas vítimas. Espera que elas se afastem e dá o bote certeiro. Você pode estar frente a frente com ele neste momento. E não saberá identificá-lo em seu impecável disfarce de amigo, excelente ouvinte, sorriso angelical e sempre munido de seu artifício preferido: A MELHOR DAS INTENÇÕES.

As considerações acerca do assunto são demasiado extensas. Tratamos aqui de resumir algumas das características que consideramos essenciais, como forma de alertar o prezado leitor para os riscos de se tornar uma vítima dessa aberração e por aqui nos despedimos, para que não se torne enfadonho nosso discurso.

Apenas uma pergunta, para que permaneça vivo o assunto: Entendeu, agora?!

É, não dá mesmo pra entender o ZÔTO.

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