quinta-feira, 2 de julho de 2009

CHAPEUZINHO V. MAU

Por amor à graça da explicação, a despeito da graça muito mais pujante de tudo o que não (ainda) tem explicação, duas mal traçadas linhas para que não se perca o amigo leitor nesse título: caso não tenhais sido convidado, perdeste um acontecimento digno de contos de fadas – o enlace matrimonial entre a Chapeuzinho e o Lobo Mau (a rima é ridícula e não intencional – ups! – de novo – foi mal), sendo este o motivo pelo qual aquela passa a assinar agora Chapeuzinho (que é nome de registro e batismo, tem papel pra confirmar) V. Mau. Mas entraremos neste assunto com mais delongas.

O começo dessa história todo mundo já conhece. De ouvir falar e contar. Ocorre que conhece errado. Nossa astuta equipe de reportagem, sempre nas entrelinhas das manchetes, revela detalhes surpreendentes, que reviravolteiam (ficou feio isso) por completo os anais dos contos de fadas universais.

Existem controvérsias, até hoje, entre as conclusões a que chegaram nossos repórteres, que perduram mesmo após fatigantes consultas a abalizados especialistas no assunto: psiquiatras e oftalmologistas.

Tem-se por certo que a então senhorita Chapeuzinho não era militante de nenhum Partido dos Trabalhadores, a despeito da coloração de sua vestimenta. É também notório tratar-se de uma neta extremamente relapsa, visto que qualquer ser humano que visitasse a avó com a mínima freqüência que fosse, jamais correria o risco de confundir o Lobo Mau com a inocente senhora que ali deveria jazer enferma.

É fato também, a despeito do que reza a tradição, que o Lobo Mau comeu a Chapeuzinho (jura de pé junto que nunca tocou na vovozinha, o que esta confirma com um suspiro), mas casou.

A grande controvérsia está em saber se a hoje senhora Lobo Mau era (e continua sendo) míope ou sonsa.

A banca de psiquiatras consultados por nossa produção é peremptória ao afirmar que a paciente em questão é míope, pese-se em favor deles o fato de que, mesmo levando-se em consideração a baixa freqüência de visitas à progenitora, Chapeuzinho era capaz de distinguir o tamanho dos traços faciais da pessoa que se apresentava ao leito. Prova disso está nos anais da história, pra quem quiser ler: “olhos tão grandes”, “nariz tão grande”, e assim por diante.

Já o time de renomados oftalmologistas consultados é unânime em afirmar que o problema de nossa protagonista é um sonseira aguda crônica, uma vez que ela era capaz de perceber com clareza que alguém ali se encontrava deitado. No entanto, como forma de confirmar se se tratava mesmo de sua vovozinha ou de um impostor (o que, segundo livre interpretação desses especialistas, chegou a ser cogitado por Chapeuzinho), propõe uma série de questionamentos estapafúrdios, com a finalidade de confirmar a identidade do interlocutor.

Nós dissemos que trataríamos do assunto com mais delongas.

O fato é que, apesar de a controvérsia seguir ocupando um lugar de destaque na mídia, Lobo Mau e Chapeuzinho acabaram se casando, depois de um tumultuado namoro que deu o que falar.

Mas isso já é outra história.

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