segunda-feira, 6 de julho de 2009

IMITANDO A ARTE

Ele não podia vê-la quieta diante do computador que disparava logo uma saraivada de perguntas. Passava o dia inteiro quieto, entretido diante da TV, sem puxar assunto. Novela, noticiário, comercial, não importava, desde que ela estivesse realizando os afazeres domésticos.

Mas era só ela sentar-se diante daquele teclado que a sua imbecil curiosidade parecia ressuscitar:

- O que você está fazendo?

- Escrevendo para o meu blog.

- De novo?

E ela suspirava. Eram sempre as mesmas perguntas todos os dias. Sequer alterava a ordem.

Ela chegou a achar que ele não ouvia as respostas que ela dava, mas desfez essa impressão no dia em que resolveu, lá pela décima terceira, dar uma resposta diferente da que dera nos dias anteriores. Foi uma confusão dos diabos, que acabou remetendo-o novamente à primeira pergunta e a todas as sucessivas. Aquela tática definitivamente não funcionara. Mais um suspiro.

Até que um dia ele surgiu com uma pergunta nova:

- E por que ficção? Tanta coisa acontecendo no mundo real, e você aí perdendo seu tempo com bobagens. Por que não experimenta escrever sobre algo que existe?

- Sobre o quê, por exemplo?!

- Sobre nós, por exemplo…

- Não acho que seja uma boa idéia.

- Por quê?

- Ninguém acreditaria…

E mais um suspiro.

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